2 out
2011

A piedade

Marcus Vinicius de Azevedo Braga

Desde cedo ouvimos repetir nos cultos cristãos:

“Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo, tende piedade de nós. Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo, tende piedade de nós. Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo, tende piedade de nós. Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo, Dai-nos a paz.”

Marcus Braga - arquivo VE

Para Jesus, o Cordeiro de Deus, clamamos por piedade há 2000 anos. No mesmo evangelho que pedimos piedade, Jesus nos relembra que “Com a medida que medires, serás medido”, ou seja, que a piedade é uma via de mão dupla. Quando da execução dos criminosos na pena capital, estes clamam por piedade. Mas, o que é a Piedade ?

Arriscaríamos algumas definições… Dizer que a piedade é o amolecimento de nosso egoísmo diante do sofrimento alheio. A lógica, fria e calculista, nos diz que aquela determinada pessoa está errada e deve ser castigada. Mas, nos fala no imo d’alma a piedade. Observamos na rua um indivíduo pedindo esmola, com frio. A razão nos diz que ele não quer trabalhar. Mas, nos fala no imo d’alma a piedade. Observamos aquele filho ingrato com a família e pensamos em deserdá-lo. Mas, nos fala no imo d’alma a piedade. Muitas vezes ouvimos clamar por piedade e calamos a nossa voz com a lógica.

Nos fala a psicologia que trazemos dentro de nós dois princípios : O paternal e o maternal, fruto de nossas potencialidades, como descrito no livro “Forças sexuais da Alma” do Dr. Jorge Andréa, editado pela FEB. O Paternal é aquele que é condicional, vinculado a uma reciprocidade. É quando nosso filho pede para viajar com os amigos e pedimos para ver seu boletim. O maternal é aquele incondicional, o amor de mãe, que não exige nada. É a mãe que tem o filho assassino na cadeia e vai lá consolá-lo. Na nossa estrutura social, temos esses dois princípios que se equilibram e convivem, no interior das pessoas, na família, nas instituições, de forma dialética. A piedade é o princípio maternal dentro de nós, nos chamando ao nosso lado humano, subjetivo. Por isso, o artista Michelangelo em sua escultura “Pietá”, exposta no Basílica de São Pedro, Vaticano, retrata a piedade como Maria segurando Jesus retirado da cruz.. Culturalmente a mãe das mães que intercede junto ao pai (Neste caso, o impiedoso Deus dos exércitos), é a figura da piedade.

A piedade não é pena. A pena é um remoer-se interno pelo dor do outro. Um lamentar-se. Não, a piedade é ativa. Irmã da caridade, a piedade faz calar a lógica fria e matemática do olho por olho, dente por dente e nos lembra que a lei é de amor e que o pai é bondoso e amantíssimo. A piedade nos move na noite de frio a pensar em nossos irmãos com frio e levarmos para ele o nosso cobertor. A piedade detém a nossa mão para açoitar o irmão que nos feriu. A piedade está além da lógica e da razão, falando-nos ao coração. Os sistemas, estes que nos atendem nos caixas eletrônicos e nos telefones, são frios. Máquinas não são piedosas. Mas, a piedade faz aquele funcionário sair mais tarde por cinco minutos naquele dia para atender aquela senhora.

Quando em multidões, escondidos entre todos, é que vemos o quanto somos impiedosos. A pilhéria, a chacota só se faz em grupo. Em grupo, assistimos execuções públicas como espetáculos, assistimos programas de TV que exibem a dor alheia gratuitamente, gritávamos em Roma pelos leões, assistimos a touradas esperando o final sanguinário, assistimos lutas corporais sem sentido. Mas, nos lembramos sempre de pedir: “Senhor, tende piedade de nós”.

Piedade, nos olhos e no coração. Piedade que resulte da ação da caridade. Piedade que faça calar o paternal, o condicional em nosso coração e nos permita estender a mão ao nosso irmão em humanidade, antes que ele clame pela nossa piedade. Que a nossa piedade prescinda da humilhação…

Nascido em 07-01-1974, Marcus Vinicius de Azevedo Braga é Compositor, Poeta, Artista Plástico e cursa Pedagogia na Universidade Federal Fluminense. Freqüentador do G.E.Meimei, em Angra dos Reis- RJ, publicou em 2000 o livro “Alegria de servir” pela Editora da Federação Espírita Brasileira.

5 Comentários

  • “Piedade nos olhos e no coração” , esta frase me faz parar e pensar…

    abraço fraterno.

  • Gostei muito desta abordagem,na qual gravamos em nós essa conclamação da Piedade! do Cordeiro!,como a maioria de nós nascemos católicos,não atinamos o real significado deste sentimento que é a Piedade!

    Obrigada,

    abraços fraternais

  • Um comentário que nos leva à reflexão e nos faz olhar nossos semelhantes menos favorecidos, com os olhos do coração. Obrigada.

  • A piedade é como as leis divinas, já está em nossa consciência, basta exercitá-la.

  • Gostei imensamente do texto, mostra uma abordagem clara e objetiva da piedade. Obrigada pelo texto, é muito inspirdor

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