Frutos e sementes
MARCUS BRAGA
Guará II, Distrito Federal (Brasil)
Certa feita, em uma noite de domingo, vi uma dessas reportagens com economistas realizando complexos cálculos e projeções. Nesta, em especial, calculava-se quanto uma família gastava para criar um filho, desde as fraldas do recém-nascido até os custos com a faculdade, observadas as correções monetárias e atualizações devidas. Não precisa dizer que os números foram astronômicos…
Se fôssemos analisar a questão dos filhos apenas pela ótica econômica, teríamos aí um verdadeiro “investimento a fundo perdido”, com grandes riscos de prejuízo no futuro. Mas a vida não é só economia. É espiritualidade, principalmente. Pela Doutrina Espírita, aprendemos que os filhos são a oportunidade bendita de resgate, pelas vias da reencarnação, no reencontro dos compromissos assumidos com os Espíritos e com a Lei divina. Ter um filho é sempre um fato fantástico, quando a nossa vida frutificada se perpetua na semente. O destino da flor é o fruto, reza acertadamente a cartilha da natureza.
Quando nos tornamos pais, a nossa vida se transforma de uma maneira irreversível. Quando assistimos ao telejornal uma criança que morre ou adoece, está ali nosso filho também. Quando uma mãe, à beira do desespero e da insensatez, abandona o seu filho no lixo ou no lago, como por vezes cita o noticiário, olhamos para os nossos filhos e nos perguntamos o porquê desse ato.
Entretanto, muitos ainda tratam seus filhos como o “Brinquedo novo que não tem na loja”, delegando de forma incondicional todos os momentos para as empregadas domésticas (em que pese o amor que dispensam, não são os genitores e a criança sabe disso), abdicando dessa dádiva por motivações individualistas. Apesar de serem pais no sentido biológico, não sentem o aspecto profundo dessa dádiva.
A paternidade e a maternidade têm um caráter divino, compromisso e bênção, onde o crescimento do Espírito deve ser o foco, aliando o equilíbrio na ternura e na exigência, com muito amor e diálogo. Ter filhos, no sentido biológico ou não, também é uma tarefa missionária, que costura compromissos passados e esperanças futuras. Para nós, espíritas, ela tem um caráter mais sublime, onde o filho de hoje é o irmão de amanhã, reforçando na carne os laços da parentela espiritual.
Que se trata de um desafio, não temos dúvida! É uma vereda de dificuldades, às vezes quase insuperáveis, criar um filho. Mas também é uma jornada acompanhada de Espíritos que brindaram o nosso lar e representam um instrumento do nosso crescimento. Essa é a forma que a Providência Divina, em uma atitude para além da perpetuação da espécie, permitir que o egoísmo latente ceda ao sacrifício de nos doarmos a um ser mais próximo, como escola para nos doarmos para aqueles nem tão próximos.
Desse modo, a experiência da paternidade/maternidade traduz-se em vivências exclusivas, de uma felicidade também exclusiva. Não é apenas um cálculo feito na ponta do lápis, é uma consolidação de laços anteriores que se traduz em crescimento mútuo para os envolvidos.
Em uma época de individualismo exacerbado, onde as belas flores não querem virar frutos, permitir a reencarnação de Espíritos deve estar na pauta de nossos projetos. Importante lembrarmos que na paternidade/maternidade, a balança dos sacrifícios sempre se compensa pela das bênçãos e pelos sorrisos.
Creiamos nisto!
A Força do Silêncio
Tenho aprendido com a vida, nem sempre de maneira fácil e indolor, que embora as palavras precisem ser usadas de forma correta para serem bem interpretadas e eficazes, o poder do silêncio é, talvez, muito maior do que a força que elas possam ter.
Falar com alguém ajuda, quando o outro está pronto pra receber o que lhe dizemos e disposto a nos ouvir. Quando nos antecipamos a isto, ao invés de ajudarmos, estaremos, sem querer, construindo uma barreira de antagonismo que vai nos afastar ainda mais dele.
Já, ouvir o outro, colocando-nos em silêncio o mais possível, numa atitude interessada e presente, ajuda muito, a qualquer um que de nós se aproxime. Esta atitude constrói pontes entre eu e o meu companheiro de bate-papo. Existe coisa mais confortante do que ser escutado atenciosamente por alguém em quem confiamos?
Aquele que escuta precisa ser humilde o suficiente para compreender e acreditar que todas as pessoas merecem crédito, embora às vezes não pareça. Necessita respeitar as diversas opiniões e formas de viver que existem, num mundo onde cada pessoa é um universo único e rico de experiências nem sempre semelhantes às nossas.
Quem escuta se conserva em silêncio, mas precisa abrir o coração para aquele que está se entregando a ele, na esperança de ser compreendido, aceito e estimulado, muitas vezes.
Assim, falar sempre não nos leva a bons resultados. O silêncio pode tomar o lugar de uma quantidade enorme de palavras que não precisariam ser ditas, ou não deveriam sê-lo, respeitando-se a situação emocional de quem nos fala.
E está tão difícil a gente encontrar alguém que se disponha a nos ouvir… Apenas isto. Muitas vezes precisamos pagar a um terapeuta, para que isto aconteça em nossas vidas.
A beleza do silêncio, a força que se encerra nele, quando vivemos numa sociedade tão barulhenta, tão violentamente ruidosa, é considerável!
Para sermos reconhecidos como pessoas inteligentes, que valem alguma coisa, muitas vezes falamos, discutimos, declaramos o que sabemos sobre os mais variados assuntos e neste falatório sem fim, nos percebemos sustentando opiniões até antagônicas à nossa verdadeira forma de ser, apenas para que inteligentemente possamos ganhar uma discussão… Com o prejuízo, muitas vezes, de uma amizade, que naquele momento se desfaz, ou fica abalada, o que não aconteceria se pudéssemos nos conservar em silêncio.
Silenciar também é uma forma de resposta. Quando seríamos agressivos demais falando, o silêncio nos poupa de dissabores futuros. Sorrindo, no silêncio, podemos acalentar, talvez, muito mais alguém, do que discorrendo todas as nossas teorias sobre qualquer assunto.
E o silêncio está em falta! Em torno de nós, nas nossas vidas, nas nossas mentes que teimam em estar sempre buliçosamente indo e vindo sobre o mesmo assunto, tirando-nos a paz que merecemos para sermos felizes.
Na biografia de Gandhi, tem uma passagem muito importante. Ele reservava um dia por semana para fazer o jejum das palavras e mesmo quando era convidado por alguém, ou por alguma instituição para se pronunciar naquele dia, se esquivava de fazê-lo, para não quebrar a sua disciplina, considerada por ele muito importante.
A gente fala tanto e muitas vezes não diz nada, ou diz muito pouco…
E o silêncio sobre o que soubemos de outras pessoas, geralmente coisas desabonadoras? Será que é fácil para nós mantermos o silêncio sobre os erros e defeitos dos outros?
Silêncio… Uma pausa mais do que necessária para que possamos manter a nossa paz interior, mesmo quando o ruído em torno é constante. Silêncio como pano de fundo para palavras realmente significativas e necessárias. Silêncio como pausa entre momentos de nossas vidas. Descanso e fortalecimento de nossos ideais e crenças. Ponte para o encontro de nós mesmos, no que somos em essência. O silêncio nos permite ser, com mais verdade!
lindissimo texto, sou mae de primeira viagem, meu bebe tem 2 meses e estou cada dia mais feliz!!! lendo coisas assim, vejo a importancia do amor dentro de nossos lares, e a diferença q esse sentimento faz na formaçao de uma nova vida.
É um belo texto, mas devemos considerar e respeitar o fato de que nem todos querem ter filhos.
Para alguns o que é lindo e divino, para outros é um verdadeiro inferno. Devemos considerar as vontades dos outros, afinal a vida é deles e a decisão cabe a eles.
Ainda penso muito se quero ter filhos e não irei basear minha decisão em espíritos “que precisam reencarnar no mundo”… Não acredito em sacrifícios e prezo o meu individualismo! *-*