19 abr
2011

O homem para além do trabalho

O título desse artigo é oriundo de uma disciplina que cursei na minha graduação em Pedagogia. A disciplina, em especial, foi muito interessante e tratava do trabalho alienado e da humanização do trabalho. Não falaremos do trabalho alienado e sim da alienação por conta do trabalho, fato comum em uma época que, a despeito de toda a tecnologia e equipamentos, não dispomos de tempo livre para nada e quando conseguimos um ócio, para o lazer e para a família, esse ainda tem que ser de alguma forma “produtivo”.

Por Marcus Braga

 

Foto imagem: Internet

O trabalho tem tomado muito tempo de nossa vida. Na busca da clamada qualidade de vida, que pode ter gradações infinitas em uma sociedade onde o consumo é a lógica, derrubamos do topo de nossa tabela de valores Deus, a família e até a saúde, alçando ao cume o trabalho.

Trabalhamos arduamente durante o dia e a noite trabalhamos em outro emprego, ou estudamos para trabalhar mais. No fim de semana, ficaram coisas do trabalho.

Continuamos em um ritmo frenético, em uma loucura que só é superada pela nossa ânsia de consumir. Toda essa correria ciclópica nos conduz a divórcios, problemas de saúde, problemas com os filhos e tantas outras mazelas que na economia divina aparecem no final do balancete como saldo negativo em nossa vida.

Temos esquecido a singeleza do ensinamento do adágio postado em tantos caminhões e adesivos de carro por aí: “nenhum sucesso no trabalho compensa o fracasso no lar”. É preciso tempo para conviver, para viver em conjunto. A convivência é o combustível da família, que permite o diálogo fraterno como lubrificante das relações.

Entretanto, insistimos em esquecer a convivência e abrimos o nosso coração a outros chamamentos. Penso que toda essa problemática se encerra no conceito que temos de felicidade. Essa é uma discussão complexa, até por que Jesus asseverou que a felicidade não é deste mundo, tratando-se de uma discussão para nós ainda, digamos assim, alienígena. Mas é uma discussão necessária, pois ela é a bússola que nos indica os caminhos terrenos.
O livro dos Espíritos, elucida a questão na pergunta n° 922, quando perguntado se existe alguma soma de felicidade comum a todos os homens. Observem a singeleza e ao mesmo tempo a profundidade dessa resposta:
“Com relação à vida material, é a posse do necessário. Com relação à vida moral, a consciência tranqüila e a fé no futuro.”

Ah, falarão muitos; “- Mas o que é o necessário para você?” Outros dirão ainda: “- Quem tem a consciência tranquila?” Alguns outros falarão : ” – Como ter fé no futuro no mundo da incerteza.” Tudo isso é verdade, o que reforça o caráter relativo da felicidade terrena. Mas, os espíritos ali nos indicam sentidos, direções. Sempre teremos uma necessidade a ser satisfeita, se não dermos um limite para elas. A paz na consciência não é a ausência de máculas e sim o entendimento da nossa condição de espírito na caminhada. E quanto à fé no futuro, Deus nos dá provas diárias de estamos em seus braços.

Esses pressupostos do que entendemos por felicidade nos conduzem a essa desenfreada corrida para trabalharmos pela alimentação de dois monstros insaciáveis: o nosso ego e a nossa ambição. Essas duas caixinhas são um poço sem fundo. E a ração cara e exótica que elas gostam é do dinheiro. Dinheiro que puxa os bens, que puxa a evidência e que termina, por vezes, a ser um fim em si mesmo em nossa vida. Ser feliz é ter e não ser.

É importante termos bem firmes a nossa visão do mundo, da vida e da felicidade, para aí construirmos a nossa tabela de valores, buscando o sentido na vida para além do trabalho. Que o trabalho e a realização profissional são fontes de felicidade, isso não resta dúvida. Mas, essa felicidade tem que encontrar eco em outras formas de realização. A pretensa justificativa do trabalho na busca da posse do necessário não pode afetar a nossa consciência tranquila quanto a nossa família e a nossa dimensão de espírito imortal. Todo trabalho é digno e valoroso. Entretanto, é preciso buscar o equilíbrio e valorar. O que para mim é importante? Quais são meus valores? Como um novo “conhece-te a ti mesmo” socratiano, essas perguntas devem invadir nossa mente todo dia antes de dormirmos. É importante sempre sopesarmos o que estamos nos tornando.

É preciso equilíbrio entre as nossas dimensões corporais e espirituais. Essa felicidade vive para além do trabalho, mais não vive além da vida. É o desafio do cristão, o viver no mundo sem ser do mundo, em um mundo transitório, mas nem por isso menos importante.

Você encontra este artigo também no Correio Espírita, acesse > http://www.correioespirita.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=776&Itemid=1

4 Comentários

  • Muito intereessante este artigo, e é a mais pura realidade da vida cotidiana, pensamos mais em Ter e esquecemos do Ser.

  • Parabéns pelo artigo, acho que realmente quando proucuramos a felicidade do mundo, ficamos na dependencia do financeiro e esquecemos que o que levaremos no retorno pra casa que é o mundo espiritual não são os bens materias e sim o que fizemos pela edificação de nossa familia e nosso próximo.
    Heloisa

  • Artigo 100% realidade da vida atual para os chamados classe média e alta, preocupados com o desenvolvimento inteletual seu e da familia e totalmente esquecidos do des. moral e dos ensinamentos de Jesus, portanto a espiritualidade está fora e o que interessa são o ter e não o SER. Mas eu pergunto onde é memorizado o ensinamento que as igrejas levam ao conhecimento de seus frequentadores ao longo de tantos anos? Onde reside o fracasso da humanidade?
    E os Espíritas já cresceram e têm a CONSCIÊNCIA do caminho a ser seguido para evoluirem o SER?
    Percebo que a ambição e o consumo ainda são o tropesso,de quase todos.

  • Esse artigo é maravilhoso, retrata o nosso dia a dia, a nossa falta de equilíbrio entre a dualidade matéria/espírito. Preocupamo -nos muito com o “ter”, e nos esquecemos do “ser”, e o tempo, que não é reciclável, vai passando e perdemos oportunidades de acumularmos os tesouros espirituais.

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