OS OLHOS AZUIS DE JESUS

Mais um artigo de nosso amigo e leitor
Marcus Vinicius de Azevedo Braga

Passeando pelas lojas do Shopping Center, observamos várias telas representando a figura de Jesus. Nas revistas do jornaleiro, na locadora, várias representações de Jesus. Em todas essas imagens observamos os olhos azuis de Jesus… Sim, o mestre é geralmente representado nas diversas situações pertencente a uma etnia europeizada, com belos olhos azuis. Que segredos se escondem por detrás desses olhos?
Não existem segredos e códigos ocultos nesses olhos. O que a princípio parece uma questão da forma, traduz conteúdos ocultos que se irradiam sobre outros posicionamentos na questão religiosa que adotamos. Que no local onde Jesus nasceu, a Palestina, a parecença européia não seria possível, isso é óbvio. Até por que se ele fosse tão diferente assim (Como um oriental nascido no seio da África pré-colonização), esse fato seria citado ao longo dos escritos sobre a sua vida. Hoje observamos que Jesus se fez diferente por outros motivos… Mas, no processo histórico de consolidação do cristianismo, como supor que o Senhor dos Exércitos poderia se assemelhar aos povos tidos como inimigos? Como crer que nos dois mil anos de cristianismo, onde a religião perseguida sobe aos píncaros do poder, estimulando guerras e invasões, que o Cristo fosse representado por pintores e escultores em expressão diferente da beleza clássica tão exaltada?
Passaram-se os séculos e a sociedade ocidental imortalizou a figura de Jesus com seus traços nórdicos principescos, na cultura valorizada pelos dominantes e vencedores, depois colonizadores dos países hoje fortes no cristianismo. Das “fantasias , das ficções e das deformações que nos foram impingidas pelos que se dedicaram , no passado, a inglória tarefa de utilizarem-se do Cristo como peça importante no tabuleiro de suas paixões, no qual disputam as maiores fatias de poder transitório” (MIRANDA, 1998,p. 43) surgiu a representação gráfica do Cristo que vemos estampada por aí, carregada da influência dessa idéia Clássica do renascentismo.


Esses atavismos, imbricados de pensamentos ingênuos e ainda presentes, como os que pensam que o espírito vestido de branco é um espírito de luz, ou que a beleza física exterior é sinal de evolução espiritual, pois é uma beleza angélica (Anjos loiros e de olhos azuis como nos afrescos renascentistas), trazem conseqüências muito mais profundas para a nossa vivência evangélica do que possamos imaginar. Essa lógica da forma predominante rejeita a lógica de valorizar o espírito e a essência. Não podemos nos esquecer de que a roupagem carnal é instrumento para a nossa evolução, conforme apresentado no planejamento da encarnação de Segismundo no livro “Missionários da luz” de André Luiz, e não reflexo de nossos dons espirituais.
A beleza é culturalmente relativa, como comprovam os estudos antropológicos, e a etnia é parte da nossa roupagem com relativização de sua importância no tempo e no espaço. Nascer negro no período da escravidão é diferente de nascer negro na África dos dias de hoje, em termos de provas e vivências. Essa diversidade é ferramenta de crescimento e evolução e após séculos, vivemos hoje dias de maior tolerância e compreensão das diferenças, e pelo menos no discurso as pessoas estão valorizando a nossa essência comum.
Quando no Capítulo II de “O Evangelho segundo o espiritismo”, Allan Kardec e os espíritos superiores falam da realeza de Jesus e do ponto de vista, torna-se claro que a ótica que as questões devem ser observadas é a ótica da vida espiritual. Jesus não era o Rei que todos esperavam e esperam, assim como os valores da vida não são os que valorizamos… Nesse balaio se ocultam conceitos elitistas e salvacionistas que contrariam a lógica da reencarnação e da prática do bem. Essa deve ser a ótica da nossa vida como espírita. Se procurarmos valorizar os “olhos azuis” em detrimento dos “olhos do espírito”, serviremos sempre as realezas terrenas, desprezando os valores espirituais. Valorizaremos os “mega-eventos”, os confetes e os holofotes, esquecendo os dividendos no campo espiritual. Não há beleza maior que o amor. O formato é do campo do mundo terreno, servindo tão somente para a transformação dos espíritos, da essência.
Se os “Olhos de Jesus” eram azuis ou castanhos, negros ou verdes, isso não importa. Tanto que esse dado não se perpetuou nas passagens evangélicas, ainda que tenhamos a necessidade de representar Jesus graficamente. Esses olhos que nos observam permanentemente, com certeza são olhos cheios de um amor incomensurável para os nossos padrões terrenos. São olhos que se enchem de lágrimas quando tratamos uma pessoa pela sua aparência e gastamos a nossa energia em atividades voltadas apenas para o exterior. São olhos firmes que enxergam apenas o espírito endividado que somos, mas que com certeza está fadado acertar nessa nova oportunidade bendita.
Terminamos com a lição do espírito André Luiz, no final do capítulo X da magistral obra psicografada pelo saudoso Chico Xavier , “Libertação”, onde a bela mulher encarnada acompanhada de obsessores ao sair do corpo físico pelo sonho mostra aparência perispiritual tão aterradora que assusta até seus algozes. Lição válida e atual em dias onde a beleza e a aparência tem ocupado cada vez mais as nossas mentes em suas nuvens de transitoriedade. Lição válida para que não olvidemos Jesus, que sempre falou da beleza eterna, da beleza da alma humana, criada a “imagem e semelhança de Deus”.

Bibliografia:
1. MIRANDA, Hermínio C. de- Cristianismo: A mensagem esquecida.- Editora O Clarim- Matão, SP- 1998
2. KARDEC, Allan- O Evangelho segundo o espiritismo- FEB, Rio de Janeiro-1993
3. KARDEC, Allan- Obras Póstumas- FEB, Rio de Janeiro-1993
4. XAVIER, Francisco Cândido- Libertação- FEB, Rio de Janeiro, 1984.
5. XAVIER, Francisco Cândido- Missionários da Luz- FEB, Rio de Janeiro, 1990.
Marcus Vinicius de Azevedo Braga é Pedagogo, evangelizador infantil e freqüenta o Grêmio Espírita Atualpa, em Brasília- DF, tendo editado em 2001 o livro “Alegria de servir” pela FEB.

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3 Comentários

  • O que acrescenta saber a cor dos olhos de Jesus? Talvez para os “espíritas elitizados” isto é um sinal que Jesus tbm tinha “sangue nobre”! rs.Enquanto os megalomaníacos acadêmicos em teologia ficam discutindo picuínhas fúteis, inúteis, há muitos profissionais as vezes sem crença nenhuma, mas disponibilizam seu tempo integral em prol da humanidade. Basta ver as ações de Médicos Sem Fronteiras, Cruz Vermelha e tantas outras Organizações espalhadas no mundo inteiro.Enquanto “doutores em teologia” fazem tourné para Europa e outros lugares turísticos as custas de inscrições dos seminários para discutir qual a distância entre o umbigo e o ego deles, há trabalhadores do bem, muitos que renunciam seu conforto para resgatar a dignidade dos menos favorecidos,que não lhes sobra tempo nem de ler um livro. Por isso o exemplo de vida desses mártires serve de dissertação, reprovando todas as teses de misticismo que esses sepulcros caiados vestidos de “falsos mestres” tentam incutir na sociedade.Para mim, vale muito mais um voluntário da Cruz Vermelha semi-analfabeto do que muitos discípulos letrados de Divaldinho,Macedinho e outros …inhos.Por isso, que eu sou mais com Voltaire: Creio no Deus Criador e não no Deus criado pelos homens.Assim como Jesus, pouco importa como ele se apresenta, mas o que ele representa.Quisá a sociedade se preocupasse mais em PENSAR,AGIR E SENTIR do que apenas TER,SER,APARECER.

  • De facto Jesus, a linda presença(interior) dEle no mundo, e o que ele fez e disse, vale muito mais que olhos sensuais…Ele, dormia ao relento muitas das vezes na companhia dos seus discípulos, vestia a roupa dos pobres e certamente andava um pouco suja, frequentava os subúrbios e tería algum cheiro a suor! portanto, que interessa a cor do olhos? brilhavam de amor, choravam de dor e compaixão e eram meigos…olhá-los era ver neles santidade abosuta.

  • Jesus, na época em que viveu encarnado, tinha o poder mágico de se apresentar conforme as necessidades da conveniência. Assim, é que, quando o senador romano Públio Lêntulus imaginando as dificuldade que poderia ter em conversar com Jesus, dado o senador não saber a linguagem da Galiléia, o senador então ficou admirado de ouvir Jesus lhe falando diretamente num romano correto, quando os mesmos tiveram o encontro.

    O Senador refere-se no livro “Há 2000 Anos” da cor dos cabelos e da barba de Jesus que eram castanhos.Cita ainda que nos olhos de Jesus irradiava uma misericórdia profunda e uma beleza suave e indefinível; mas, não faz alusão à cor dos seus olhos. Então, deduz-se aí que a cor dos olhos de Jesus, provavelmente, fossem da mesma cor dos seus cabelos. .

    do livro “HA 2000 ANOS, Francisco Candido Xavier

    seriaser os cohadv´pocaéoca tinha o poder para se apresenta

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