8 maio
2011

Carta à minha mãe

Mãe, quando eu comecei a escrever esta carta, usei a pena do carinho, molhada na tinta rubra do coração ferido pela saudade.

As notícias, arrumadas como pérolas em um fio precioso, começaram a saltar de lugar, atropelando o ritmo das minhas lembranças.

Vi-me criança orientada pela sua paciência. As suas mãos seguras, que me ajudaram a caminhar.

E todas as recordações, como um caleidoscópio mental, umedeceram com as lágrimas que verteram dos meus olhos tristes.

Assumiu forma, no pensamento voador, a irmã que implicava comigo.

Quantas teimas com ela. Pelo mesmo brinquedo, pelo lugar na balança, por quem entraria primeiro na piscina.

Parece-me ouvir o riso dela, infantil, estridente. E você, lecionando calma, tolerância.

Na hora do lanche, para a lição da honestidade, você dava a faca ora a um, ora a outro, para repartir o pão e o bolo.

Quantas vezes seu olhar me alcançou, dizendo-me, sem palavras, da fatia em excesso por mim escolhida.

As lições da escola, feitas sob sua supervisão, as idas ao cinema, a pipoca, o refri.

Quantas lembranças, mãe querida!

Dos dias da adolescência, do desejar alçar vôos de liberdade antes de ter asas emplumadas.

Dos dias da juventude que idealizavam anseios muito além do que você, lutadora solitária, poderia me oferecer.

Lágrimas de frustração que você enxugou. Lágrimas de dor, de mágoa que você limpou, alisando-me as faces.

Quantas vezes ouço sua voz repetindo, uma vez mais:

Tudo tem seu tempo, sua hora! Aguarde! Treine paciência!

E de outras vezes:

Cada dia é oportunidade diferente. Tudo que você tem é dádiva de Deus, que não deve desprezar.

A migalha que você despreza pode ser riqueza em prato alheio. O dia que você perde na ociosidade é tesouro jogado fora, que não retorna.

Lições e lições.

A casa formosa, entre os tamarindeiros assomou na minha emoção.

Voltei aos caminhos percorridos para invadi-la novamente, como se eu fosse alguém expulso do paraíso, retornando de repente.

Mãe, chegou um momento em que a carta me penetrou de tal forma, que eu já não sabia se a escrevera.

E porque ela falava no meu coração dorido, voei, vencendo a distância.

E vim, eu mesmo, a fim de que você veja e ouça as notícias vibrando em mim.

Mãe, aqui estou. Eu sou a carta viva que ia escrever e remeter a você.

*   *   *

Entre as quadras da vida e as atividades que o mundo o envolve, reserve um tempo para essa especial criatura chamada mãe.

Não a esqueça. Escreva, telefone, mande uma flor, um mimo.

Pense quantas vezes, em sua vida, ela o surpreendeu dessa forma.

E não deixe de abraçá-la, acarinhá-la, confortar-lhe o coração.

Você, com certeza, será sempre para ela, o melhor e mais caro presente.

 

Redação do Momento Espírita, com frases do cap. XVI do livro Pássaros livres, pelo Espírito Rabindranath Tagore, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Disponível no CD Momento Espírita v.18, ed. Fep.
Em 04.05.2011.

6 Comentários

  • dia da mães… me pergunto o que é ser mãe?
    e o que me vem ao coração é o amor…

  • Eu também escrevi para a minha querida mãe, apesar dela não estar mas aqui, como encarnada. Dizendo a ela da minha gratidão, do amor imenso que sinto por ela. Rogando a Deus muita luz para o espírito dela. Graças a Deus, que sou espírita e acredito na vida futura. Estamos e estaremos sempre unidas, por enquanto, através do pensamento, das lembranças, na emancipação da alma. Mas dia virá que nos reencontraremos no mesmo plano. Deus a Abençoe. Que Assim Seja!!! Muita paz!

  • Amor, bondade, caridade, luz do espirito, doce do mel, proteção do perigo a evolução do ser, denomina-se mãe.
    Luiz

  • Como minha mãe ja se encontra no plano espiritual, li uma mensagem e recebi de presente uma foto dela quando ainda era jovem, pra mim isso foi uma resposta que ela escutou e gostou da minha prece.

  • …. sem palavras…. apenas sentir e agradecer!!!

  • Lindas as palavras sobre a maternidade… Mas o que fazer quando se tem uma mãe desequilibrada, egoísta, que pragueja contra bons filhos? Uma mãe que vê na maternidade um peso e nunca perdoa o filho por ter nascido, dizendo que ele roubou sua juventude? Uma mãe que se felicita com as infelicidades do filho e que vive repetindo que ele é incapaz? Sempre fui uma boa filha, claro, todos temos defeitos… Nunca dei trabalho para minha mãe, nem na infância, nem na adolescência… Sempre fui estudiosa, educada… Ela me entregou ao meu pai bem pequena, para que eu não atrapalhasse o casamento dela… Depois de crescida, ela mora em um apartamento q eu comprei… Sempre a ajudo como posso… Mas ela só me pragueja… Não combina com nenhum dos irmãos dela… Não para em nenhum emprego, porque não aceita ordens de ninguém… E minha avó sempre diz que ela sempre foi difícil desde criança… Não encontro na literatura espírita nada que trate deste tema… Das mães inconsequentes e que não tem sentimento de maternidade… Gostaria de entender isso melhor…

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