21 mar
2015

A Reencarnação

Da mesma maneira que o homem, deixando de lado suas roupas velhas, veste outras novas, também o Espírito, depois de abandonar os corpos gastos, se reveste de outros corpos novos.

Bhagavad Gitâ – canto II – estrofe 22

Reencarnar significa retornar à carne. A esse processo todo Espírito está submetido por anseio próprio de crescimento, e destinação do plano de Deus para as criaturas. A reencarnação tem como base a justiça divina, que alia a caridade com a disciplina retificadora, oferecendo novas oportunidades de reparação da lei naquilo em que ela foi violada.
Reafirmamos contudo que a reencarnação sendo uma lei natural, o conhecimento de sua existência perde-se no tempo. Encontramos a reencarnação generalizada entre os iniciados das escolas antigas, em numerosas obras literárias e no pensamento humilde do homem comum, embora às vezes confundindo a sua aplicação e descaracterizando a sua essência. Tal ocorreu na introdução da metempsicose, doutrina que supõe que o Espírito humano reencarna em um corpo de animal como medida punitiva pelo mal que houvera praticado.
O Perispírito1Ao atingir a humanização, o princípio inteligente passa a chamar-se Espírito, e a partir de então, jamais reencarnará em corpos de animais inferiores. Os iniciados não divulgavam a sua ciência sagrada para a população, que não a entenderia, dela se aproveitaria, ou mesmo a deturparia, fragmentando-a em várias religiões, tal como ocorreu com a interpretação bíblica. Isso está bastante claro nos “Hinos Orficos” quando dizem: “Escuta as verdades que convém ocultar à multidão, e que fazem a força dos santuários.”
No Egito, a reencarnação era estudada e aceita como lei igualitária, justa e generalizada. Nas escolas iniciáticas, o neófito aprendia a se conhecer, e como lição primeira, ouvia do sacerdote que presidia a sua iniciação, ensinamentos acerca do perispírito e da reencarnação. Dizia o mestre: “Oh! alma cega, arma-te com o facho dos mistérios e, na noite terrestre, descobrirás teu dúplice luminoso, tua alma celeste. Segue esse gênio divino e que ele seja teu guia, porque tem a chave
das tuas existências passadas e futuras.” Entre os gregos, Pitágoras, Sócrates, Platão e outros filósofos, foram grandes
defensores da reencarnação, sendo que Sócrates não foi um iniciado, porque gostava de ensinar à população livremente, conversando com ela e dela nada escondendo, razão pela qual foi condenado sob a alegação de perverter a juventude. Na Grécia,
os que começavam a iniciação ouviam do hierofante: “Vinde gozar, vós que tendes sofrido; vinde repousar, vós que tendes lutado. Pelos sofrimentos passados, pelo esforço que vos conduz, vencereis, e, depois do longo circuito das existências tenebrosas, saireis enfim do círculo doloroso das gerações… Amai, porque tudo ama; amai porém à luz e não às trevas. Durante vossa viagem tende sempre em mira esse alvo. Quando as almas voltam ao espaço, trazem com hediondas manchas, todas as faltas da sua vida estampadas no corpo etéreo… E, para apagá-las, cumpre que expiem e voltem à Terra.”
Afirmam os Vedas: Há uma parte imortal no homem que é aquela, ó Ágni, que cumpre aquecer com teus raios, inflamar com teu fogo. De onde vem a alma? Umas vêm para nós e daqui partem, outras partem e tornam a voltar.
Segundo o Budismo, está na cobiça a causa do mal, da dor e do renascimento. A reencarnação era portanto, como ainda é, adotada por muitos povos, como nos demonstram com clareza as obras com as quais estes nos brindaram.
Como legado desse período lúcido e progressista dos egípcios para o futuro, temos a “Tábua de Esmeralda” e “O Livro dos Mortos”. “Os Mistérios de Elêusis”, “Timeu” e “Phedon” são obras gregas que exaltam essa doutrina. Entre os judeus, os iniciados também tomavam conhecimento das vidas sucessivas através de obras como “A Cabala” e o “Talmud”. Outros povos ainda adotavam a reencarnação como parte de seus ensinos e de sua aprendizagem. Os druidas na Gália; os indianos através do Budismo, Krishnaismo, e Bramanismo; os persas pelo Mazdeísmo e o Zoroastrismo; os cristãos primitivos até o Concilio de Constantinopla II, em 553 d.C.
Lembramos ainda as figuras de Giordano Bruno, Dante Alighieri, Blaise Pascal, Orígenes, São Jerônimo, Cardeal Nicolau de Cusa e Jesus (Mateus XVII e João III).

ajuda espiritualSe mais não citamos é por ser outra a finalidade da nossa pesquisa. Atualmente, a alma e a reencarnação não estão mais restritas ao campo religioso e dogmático. Adentraram as universidades, as pesquisas de laboratório, o cerne das filosofias modernas, a razão da ciência.A reencarnação constitui-se na modernidade na única teoria capaz de explicar coerentemente a razão da dor, a diversidade dos destinos, a evolução espiritual, e toda e qualquer situação de aparente injustiça. É concorde com todos os
ensinamentos científicos sem em nada contradizê-los, ao mesmo tempo que fornece a chave de inúmeros enigmas de ordem psíquica, apoiando-se em demonstrações positivas e irrefutáveis. Explica tal lei, o evolucionismo que faculta o transformismo nas espécies, caracterizando a evolução anímica pela ascendência do princípio inteligente. Com ela, desaparecem as dúvidas quanto à convivência em um mesmo lar (ou não) do talento, do gênio, do idiota, do feio, do sadio, das aptidões, das intuições, da beleza,
e outros desníveis existentes entre pessoas submetidas (ou não) a um mesmo clima, educação, alimentação e tratamento.
A Biologia clássica tem se mostrado impotente para explicar de maneira lógica e sem subterfúgios todos esses “incidentes”. Admita-se que cada Espírito ao encarnar traz consigo uma bagagem moral-intelectual e um carma determinandolhe
provas e expiações e tudo se esclarece meridianamente. Aqueles que dizem ser o gênio ou o idiota produto dos genes que o formaram, distanciam-se muito da realidade. Os genes contribuem na formação material do corpo, oferecendo ao Espírito uma máquina perfeita para que ele se manifeste em sua genialidade se a possuir, ou, caso contrário, em sua mediocridade. Pode
igualmente impor ao gênio a limitação de ficar manietado, por deficiência do corpo que a lei cármica lhe conferiu.
Os genes obedecem às condições físicas que o perispírito traz, refletindo na formação do corpo, a programação que lhe é imposta por uma lei maior que a própria genética. O Espírito, através da sua evolução moral-intelectual é que determina o grau de perfeição do templo que irá habitar. Concluímos através deste raciocínio que o idiota pode ser um Espírito culto, aprisionado por não usar com ética seus conhecimentos, e o saudável, na interpretação mundana, ser um Espírito simples que não aprendeu os mais elementares rudimentos do amor.
Lembramos àqueles que defendem a teoria da hereditariedade psíquica, que basta apenas um fato destoante para pôr à lona toda uma teoria mal elaborada. Sócrates não tinha pai inculto, pois era um simples varredor de uma casa que vendia estátuas? Péricles não gerou dois monstros, Xantipos e Pároclos? Machado de Assis não foi filho de uma lavadeira sem maiores conhecimentos? José do Patrocínio não foi filho de uma escrava? Onde a hereditariedade psíquica em tais casos? Que dizer então de Michel’ Ângelo, aos 8 anos considerado completo na arte da pintura? De Pascal, aos 13 anos, famoso matemático e geômetra? De Mozart, aos 7 anos compondo óperas? De Goethe, aos 10 anos falando vários idiomas e de Pepito de Ariola, que aos 4 anos tocava árias com maestria, sendo estudado exaustivamente por Richet?
BalançaLembramos aqui a tolice de Hitler, tentando melhorar a raça simplesmente manipulando leis biológicas e Robert Graham, ao criar um banco de espermas, onde espermatozóides retirados de gênios da ciência, prêmios Nobel, são armazenados e conservados, visando a gerar crianças superdotadas. Pobres Espíritos! Às vezes, cultos; mas insensatos e ingênuos para a verdadeira ciência.
O caráter, o talento ou dons que o Espírito apresenta, constituem o somatório da sua própria evolução, no que se infere que as idéias inatas, as inclinações, as ponderações e outros procedimentos, podem em alguns casos manifestar-se muito cedo, mesmo antes do completo desenvolvimento cerebral físico, visto que o cérebro perispiritual se encontra formado e atuante em seus arquivos.
Não nos reportaremos aqui aos casos das crianças e adultos que lembram naturalmente e com detalhes minuciosos, as reencarnações passadas, por esse assunto encontrar-se ostensivamente divulgado e comprovado, habitando a galeria
dos eventos banais nos dias de hoje, onde a regressão de memória fez dobrar os joelhos das doutrinas não reencarnacionistas.
No entanto, convém lembrar os motivos pelos quais quando encarnados, não lembramos de nossas vidas anteriores, fato que, em última análise, constitui prova da bondade divina, que nos poupa as amarguras de expor em evidência nossos erros e crimes de outrora. Se lembrássemos tais desmandos, o remorso nos torturaria ou até poderia paralisar nosso esforço de reparação. Igualmente, na presença de um desafeto, teríamos dificuldades em perdoá-lo, ou reiniciaríamos a contenda, agora com perspectiva de “vitória” em nossa vingança, pois o outro, o inimigo, no presente momento nos é subalterno. Resta lembrar ainda, que na presente encarnação, poderemos estar assumindo uma situação inferior ou superior à passada. No segundo caso, abriríamos caminho para que o orgulho se instalasse em nós como verme devorador. Ainda outros diriam: quanto orgulho! ontem pedia favores, esmolas, vendia biscates. Meu pai emprestou muito dinheiro a ele, que nunca pagou. No outro caso, situação inferior, igualmente fariam referência ao infortunado com sarcástico humor: Quem diria! Ontem nadando em ouro e hoje comendo até besouro. Coisas da maldade humana. E ainda não é tudo. Reencarnamos às vezes, em ambientes cujas companhias não nos são afins. Imagine saber-se estranho em terra estranha, distanciado dos seres queridos, na dúvida atroz de não saber se os mesmos estão ou não felizes, ou que, por força da lei cármica, a mulher amada, ou o filho adorado teve que nascer no lar do inimigo…
family with children on hands, sunset skyTantas são as desvantagens em saber os eventos passados na encarnação presente, que o mundo seria um pandemônio, caso isso fosse de possível ocorrência. Troca de filhos, reincidências em vícios antigos, volta à rotina anterior, dívidas monetárias cobradas da última encarnação, heranças requisitadas de séculos passados, o rico planejando nascer como filho do seu filho para reaver o patrimônio, e tão profundos e variados seriam os abusos que Deus em sua sapiência os evita pelo esquecimento.
Voltemos agora às perguntas iniciais. Por que na cidade de Armero? Enquanto dormiam? Por que crianças, velhos? … Creio que já sabem a resposta. Eles mesmos pediram aquela expiação, como reparação do mal que fizeram a outrem e portanto, a si próprios. Foi o cumprimento da lei cármica, distribuindo conforme o semeado. Os que conseguiram safar-se estavam quites com a contabilidade divina, pelo menos no que se relaciona ao episódio. O que sofreu apenas pequenos danos é que
comprometeu-se menos no passado.
Jesus foi de uma clareza inquestionável, quando condicionou nossos infortúnios ao erro ou pecado por nós cometido. Ao promover as suas curas, após a aferição perispiritual do doente, efetuada para verificar se o seu carma podia ou não ser liberado, ou em outras palavras, se o sofrimento já limpara aquele perispírito das manchas provenientes dos erros praticados, Jesus enfatizava: Vai e não peques mais. Evidência clara de que a causa primária da doença era o afastamento das leis morais.
Mas, e o cego de Jerico? Não nasceu cego? Como ele poderia ter pecado?
Creio que ninguém fará tais perguntas por demais tolas, após conhecer a mecânica da reencarnação.

Do livro “O Perispírito e suas Modelações” capítulo 30.

Luiz Gonzaga Pinheiro

1 Comentário

  • Eu conheço um pouco da reencarnação, mas ao ler este artigo fiquei muito feliz, pois era o que eu precisava para passar estes conhecimentos para um professor amigo, interessado no espiritismo. obrigado.

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