Uma resposta a um Espírita abortista

Por Marcello Santos Chaves
Belém-PA, 23 de Abril de 2012

No site espírita, ora denominado: Sociedade Espírita Nova Era, consta um artigo sob o título:

O STF, a Justiça, a Doutrina dos Espíritos e o Movimento Espírita, escrito por um Senhor, ora identificado pelo nome de Marcelo Henrique. Trata-se de um espírita de 30 anos de doutrina kardecista, e que defende abertamente a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em liberar o assassinato em massa de crianças portadores de deficiência (anencéfalas).

Vamos recapitular aqui alguns dos entendimentos firmados por este Senhor no artigo supracitado:

Reconhece ser justo e coerente o posicionamento oficial da FEB e do movimento espírita contra o aborto;

Afirma ser de cunho fundamentalista e proselitista as descrições, que espíritas fazem, das conseqüências para as pessoas que praticam o aborto, pois em seu entendimento isto parece soar como uma espécie de pré-julgamento para com o destino dos mesmos, e desta forma os mesmos incorrem em uma falta de “ética kardeciana”;

Afirma ser o aborto, para casos de estupro, algo plenamente aceitável, pois entende que o nascimento de uma criança, objeto de uma violência sexual, é a legitimação deste crime de violência;
 
Afirmar que, em sua decisão de assassinar inocentes, o STF não legislou, apenas aplicou o Direito, com “grande maestria” e “senso de justiça”;

Afirma que o STF devolveu a mulher o direito de escolher diante da situação concreta, de extrema dificuldade e de notório contorno psicológico, que “merece” de qualquer cidadão de bom senso o exercício da misericórdia, da compreensão, da caridade e da fraternidade, e não o posicionamento de censura, quais controladores ou censores do comportamento alheio – e o que é pior, fundado na interpretação mais que literal de “normas espirituais”, ou de configuração moral religiosa;

Afirma que, se Jesus estivesse entre nós nos dias atuais, jamais iria apontar para uma abortista de anencéfalos as conseqüências de seus atos, e sim dizer que a perdoa, ampara e compreende;

Afirmar que não identifica atualmente a doutrina espírita, de amor e caridade, de trinta anos atrás quando de seus ingresso no espiritismo;

Afirma que temos hoje um Espiritismo que condena, que admoesta, que fecha portas, que IMPÕE a apologia do sofrimento como “um dos caminhos que leva à evolução”, como se estivéssemos nós, algemados a ele em função de nossas próprias imperfeições, o “mal necessário”, ou o “escândalo”, na visão e versão bíblica;

Parabeniza o STF por liberar o assassinato em massa de deficientes físicos;E parabeniza as mulheres que decidirem pela interrupção da gravidez, por entenderem, dentro de seu momento existencial, que não há perspectiva nem proveito para si ou para outrem naquela gestação, para que tenham outras oportunidades de plena maternidade.

***

Bem, em primeiro lugar, reservo este parágrafo para congratular este Sr. Marcelo Henrique por não se ver obrigado a aceitar, pia e silenciosamente, uma sucessão interminável de “prescrições espirituais”, como sendo ele um mero gado marcado de um rebanho de alienados religiosos. Congratulo também por se permiti repelir o que possa ser dito como “se espírita fosse”, só porque fora afirmado ou assinado por certa ou dada “autoridade” reconhecida pelas pessoas como sendo “intocável” ou “respeitável”, ou porque atribuída a uma nobre identidade espiritual, como comunicante.

Acredito que o processo dialético das relações sociais, face aos ensinamentos dos espíritos, é o sal de nossa doutrina e isso a torna cada vez mais horizontal em sua profissão. Elemento que nos permite romper com os modelos conservadores das estruturas doutrinárias hierarquizadas. Afinal de contas, nenhum médium ou codificador é infalível. E nenhum médium ou codificador estar acima de qualquer suspeita. Por mais reconhecidos e amorosos que sejam. E já provamos tal fato neste blog, de maneira irrefutável.

No mais, em que pese seu ato louvável de insurreição ante ao “consenso doutrinário” vigente, devo discordar peremptoriamente do Sr. Marcelo Henrique, em sua ESQUIZOFRENIA LAICISTA, ao ser favorável a decisão do STF em permitir o assassinato em massa de deficientes físicos (anencéfalos).

O Sr. Marcelo Henrique se fundamenta em dois pilares para sustentar sua posição:

O primeiro de que o simples fato dos espíritas possuírem instruções de além tumulo sobre as conseqüências de um aborto, não lhes credencia a citá-las no debate social sobre a liberação ou não do aborto, pois isto soaria como um terrorismo doutrinário;

O segundo é que o Estado e o Direito deve garantir o livre arbítrio de quem quer que seja. E, em nome deste livre arbítrio, torna-se legitimo até assassinar o próximo, de forma institucionalizada, como garantia da condição de liberdade, dentro de um dado momento existencial.

Vamos por partes!

Bem… se os espíritas não podem mais parafrasear, no debate social, o que lhes é apresentado em literaturas codificadas e psicografadas, então qual o sentido e a razão de ser da apresentação publica e livre do livro “O Céu e O Inferno” escrito por Kardec? Qual o sentido em tomarmos ciência das dimensões da Lei de Ação e Reação e da justiça divina em nossas vidas? Seria este livro uma coletânea terrorista dos espíritos para fazer frente a nossas mazelas? Os espíritos nos narraram as diversas situações de expiação neste livro, com o único objetivo de nos aterrorizar, e nada mais? Seria as milhares de literaturas, que versam sobre as conseqüências de além tumulo para quem pratica o aborto, um arcabouço de fundamentalismo terrorista religioso? Eu poderia dizer que não, mais o Sr. Marcelo Henrique nos traz um detalhe interessante. Ele passa a questionar a seriedade dos espíritos que afirmaram tais conseqüências, bem como questiona a infalibilidade dos médiuns que transcrevem tais conseqüências.

Trata-se, no meu ponto de vista, de questionamentos válidos, e que precisam, sob a luz da razão serem esclarecidos.

Primeiro, vamos analisar a causa e não as conseqüências. Eu pergunto ao Sr. Marcelo Henrique se o mesmo, com mais de 30 anos de espiritismo, compreender que a vida material e a junção espírito/matéria se dar na concepção entre dois gametas (masculino e feminino)? Ou tais eventos só ocorrem quando a criança nasce?

Segundo o Livro dos Espíritos, mas precisamente na pergunta 344, a vida material (reencarne) se dar na concepção. Ante ao exposto vamos a outras perguntas do livro em epígrafe, in verbs:

“Pergunta 356. B) – Portanto, toda criança que sobrevive ao seu nascimento tem necessariamente um espírito encarnado em si?

Resposta: o que ela seria sem ele? Não seria um ser humano.

Pergunta 358
 – O aborto voluntário é um crime, seja qual for à época da concepção?

Resposta: Sempre que se transgride a lei de Deus, há crime. A mãe, ou qualquer outra pessoa, ao tirar a vida da criança antes do nascimento, sempre estará cometendo um crime, pois isso significa impedir a alma de suportar as provas das quais o corpo deveria ser o instrumento.”

Grifo Nosso

Fonte: Livro dos Espíritos/Allan Kardec. Tradução Mathueus R. de Camargo. Capivari-SP: Editora EME. Pág. 142.

Logo, a partir dos ensinamentos de além-túmulo, a vida de encarnado se dar a partir da concepção, e toda e qualquer forma de interrupção da vida da criança antes do nascimento é crime.

Agora, ante aos questionamentos do Sr. Marcelo Henrique, fico a me perguntar se a informação esculpida acima (no Livro dos Espíritos) não adveio de um espírito zombeteiro, que tinha por intenção, enganar Kardec, e nos levar a privar a mulher do exercício pleno de seu livre arbítrio. Para concordar com isso eu preciso avaliar o que os espíritos nos apresentaram, e se de fato possui sentido e lógica. Será que a vida se dar na concepção? Será que uma criança que apresenta sinais vitais após o nascimento possui um espírito que anima seu corpo?

Bem, o critério que nós espíritas tomamos para avaliar a seriedade de um espírito que nos transmite informações é conjecturar: a coerência, a lógica, a racionalidade e o padrão de humanidade/caridade e justiça de suas proposições. E, em uma profunda meditação pessoal, estou convencido e convicto, sob a lógica conjugada por minhas faculdades cognitivas, de que a vida se dar na concepção, e dessa maneira, toda e qualquer forma de interrupção voluntaria da mesma é um atentado a vida e a natureza, e por tanto devo inferir que, independentemente da bagagem e estatura espiritual que se encontravam os espíritos que transmitiram tais informações a Kardec, devo concordar com os mesmos face a coerência, a lógica e o padrão de humanidade/caridade contido em suas afirmações.

E o que me leva a crer que o Sr. Marcelo Henrique concorda com as informações dadas pelos espíritos a Kardec sobre a vida e o aborto? Muito simples. Ele deixa claro em seu texto que Jesus perdoaria uma mulher abortista. Neste sentido, só é passível de perdão quem comete delitos! Não é mesmo Sr. Marcelo Henrique? Afinal de contas, que motivos o Sr. Marcelo Henrique teria para concordar com a posição oficial da FEB de ser contra o aborto?

Nestes termos, se o Sr. Marcelo Henrique possui a mesma compreensão sobre o que seja a vida, e o que seja o aborto, sob a luz da doutrina espírita, face aos seus “30 anos” de espiritismo, é no mínimo, de se surpreender que o mesmo venha a público parabenizar o STF por permitir assassinatos em massa de inocentes, e também de render louvores as mulheres que praticam o assassinato de deficientes físicos, sob a ótica do livre arbítrio.

Compreender que o aborto é um crime nos remete a um dilema. Dilema este que, em sua estrutura emocional e/ou cognitiva, o Sr. Marcelo Henrique não conseguiu administrar.

Estamos diante do direito da mulher de decidir sobre a sua vida reprodutiva e seu corpo!

E estamos diante do direito de viver de uma criança indefesa e inocente ante as circunstancias!

O que deve prevalecer?

Para o Sr. Marcelo Henrique, sob a luz do Direito, o livre arbítrio da mulher deve prevalecer. Para mim, o direito dela de decidir esgotou-se quando esbarrou no direito que uma criança tem de viver assim como ela. Mesmo que esta vida possua apenas alguns anos, alguns meses, algumas semanas, alguns dias ou algumas horas. A ninguém é dado o direito de ceifar uma vida! Este é o meu entendimento! Este é o entendimento da doutrina dos espíritos!

Vamos a um outro detalhe.

O Sr. Marcelo Henrique mostra-se em seu texto extremamente indignado com a forma como o movimento espírita reage às ações do Estado em legalizar o aborto e descriminalizar quem os pratica. Ora caro Senhor! As conjecturas que o movimento espírita faz sobre as conseqüências do aborto não são mitos, pois onde há crime, há conseqüências (Lei de Ação e Reação), e a forma como se dar a apresentação das mesmas é proporcional a insanidade das autoridades, que em sua ignorância sobre as questões de além tumulo, não se dão conta da barbaridade que estão cometendo! E vou além. Afirmo que o movimento espírita ainda está longe de se manifestar a altura destas ações prevaricadoras cometidas pelo judiciário brasileiro. O judiciário está legislando sim! E usurpando a competência da casa de leis que é o congresso nacional meu caro. O judiciário existe para interpretar o que está escrito, e não inserir novos conteúdos nos arcabouços legais, pois não possui a chancela popular (voto) para isso. Em caso de conflito jurídico insanável no campo da hermenêutica, que seja levada a questão ao legislador para deixar claro, NA LETRA DA LEI, o entendimento correto, e não ficar inventado novas disposições legais, como faz atualmente o STF, animado mais por uma perspectiva meramente ideológica do que estritamente jurídica.

Agora, a perspectiva do Sr. Marcelo Henrique, dialoga perfeitamente com uma estrutura de poder autoritário, onde o entendimento correto é do poder dominante constituído. O Sr. Marcelo Henrique ao acordar com STF, compreende que a ordem social deve ser construída de cima para baixo! Estais enganado meu caro. Em uma democracia a ordem social é construída de baixo para cima. O arcabouço legal (legislações) de um Estado nada mais é do que a derivação dos padrões de valores e culturas de um povo. Se não fosse assim, não estaríamos em uma democracia, e sim em uma tirania, onde tudo aquilo que um déspota ou uma oligarquia entende ser o correto, passa então a ser lei, independentemente do que o povo achar ou pensa sobre a vida e as relações sociais. O judiciário brasileiro, na figura do STF, nada mas é atualmente do que um instrumento de tirania e repressão, pouco se importando com as implicações culturais e sociais que suas decisões venham a causar. Em uma democracia, a cultura e o padrão moral pode ser relativizado? Sim! Mas não através de uma bula papal baixada pelo STF, e sim a através de audiências publicas, consultas populares, debates em sessões plenárias no congresso nacional, nas Assembléias Legislativas, nas Câmaras Municipais, em fim…. um padrão cultural pode ser relativizado através apenas do amplo e irrestrito debate de  base popular, e uma vez convencida a maioria de que tal prática é moralmente aceitável, torne-a então lei sob a vontade popular.

Se não for desta forma, então estar amplamente justificado as guerras promovidas pelos EUA contra Iraque e Afeganistão. Estaria amplamente justificada a ocupação de tropas americanas nestes países, impondo ao povo mulçumano o que o ocidente entende ser o correto para os mesmos. E Karl Marx estava totalmente correto ao afirmar que é impossível se fazer algo na história sem o uso da violência e da repressão. E exemplos como o de Jesus, Ghandi, Madre Teresa, Irmã Dulce e Chico Xavier são apenas uma mera utopia de transformação social pacifica.

Parabéns Sr. Marcelo Henrique!
Seus desserviços doutrinários são tocantes!

O leitor encontra este artigo > http://marcello-chaves.blogspot.com.br/2012/04/uma-resposta-um-espirita-abortista.html

3 Comentários

  • Ditadura de Esquerda?O Congresso acabou?
    O Judiciário não foi eleito por ninguém. Três quartos de sua atual composição decorreram da vontade solitária do então presidente Lula, que incluiu entre estes seu próprio advogado (e do PT), Antonio Dias Toffoli, e um amigo pessoal, Ricardo Lewandowski. O atual presidente, Carlos Ayres Brito, é fundador do PT em Sergipe, e hospedava Lula quando este ia ao estado.
    Há quem ache tudo isso irrelevante e argumente que o mesmo se deu com os presidentes anteriores. Não havia, porém, um dado que ressalta das recentes decisões: o engajamento com uma agenda partidária – no caso, a do PT.
    Basta conferir a convergência entre as já mencionadas decisões do STF e o discurso e as propostas do partido hegemônico.
    Além de decidir contra a letra da lei – e a própria Constituição (no caso da descriminação do aborto e da união civil homossexual) -, o STF agiu em consonância com a militância de grupos sociais, que sabiam que suas teses não teriam vez no Congresso, em decorrência da forte rejeição popular.
    Daí o termo ativismo judiciário. O STF passou a ser instância para driblar o Congresso, ação facilitada pelo monumental desgaste moral a que a instituição parlamentar se presta.
    No entanto, uma coisa nada tem a ver com a outra. A judicialização do processo político estabelece um padrão autoritário em plena democracia, tornando-a não mais que uma fachada.
    Quando a Constituição é um detalhe, tem-se, na prática, o triunfo do “direito achado na rua”, que relativiza as leis a partir de argumentos ideológicos, que ignoram o processo legislativo e se nutrem de truques e subjetivismos.
    O Congresso Nacional, aos poucos, vai deixando de existir como efetivo Poder da República, engolido pelos outros dois, Executivo e Judiciário. Ele hoje age como cartório do Planalto, chancelando decisões que não são suas – e que entram em vigor antes que dela tome conhecimento.
    http://www.abcpolitiko.com.br/colunistas.php?id=35086

  • Ola perdi meu bb com 2 meses ainda nao entendi o pq queria saber na visao espirita

    • Amiga Marília, boa noite!
      Sabemos que Deus não desampara a nenhum de seus filhos, isso inclui toda a humanidade de sua criação. Além de cada ser existente no universo.
      O que nos falta além do entendimento de suas Leis que são eternas e imutáveis, falta-nos a confiança na sua Providência.
      Só os ensinamentos de Jesus, que deveríamos estudar com seriedade, deixamos de lado infelizmente e não seria preciso nada mais. Mas temos a Doutrina Espírita, “O Consolador Prometido” por nosso Mestre e irmão Jesus. Mas também deixamos de lado e não nos dedicamos aos estudos.
      No “O Livro dos Espíritos” e também em toda obra básica encontramos esclarecimentos sobre o assunto de sua dúvida.
      Quando puder, adquira o livro e estude-o, temos a certeza de que encontrará respostas que procura e o Consolo de Amor do Criador para seu coração de mãe.

      Continue sendo nossa leitora, em breve estaremos atualizando o site com mais frequência.

      Saúde e paz sempre.

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