23 jun
2013

CURIOSAS OBSERVAÇÕES

NOSSO LAR

33

André Luiz / Chico Xavier

 

Livro Nosso Lar - arquivo VE

Livro Nosso Lar – arquivo VE

Poucos minutos antes de meia-noite, Narcisa permitiu minha ida ao grande portão das Câmaras. Os Samaritanos deviam estar nas vizinhanças.

Era imprescindível observar-lhes a volta, para tomar providências.

Com que emoção tornei ao caminho cercado de árvores frondosas e

acolhedoras! Aqui, troncos que recordavam o carvalho vetusto da Terra;

além, folhas caprichosas lembrando a acácia e o pinheiro. Aquele ar

embalsamado figurava-se-me uma bênção. Nas Câmaras, apesar das janelas amplas, não experimentara tamanha impressão de bem-estar. Assim caminhava, silencioso, sob as frondes carinhosas. Ventos frescos agitavam-nas de manso, envolvendo-me em sensações de repouso.

Sentindo-me só, ponderei os acontecimentos que me sobrevieram,

desde o primeiro encontro com o Ministro Clarêncio. Onde estaria a paragem de sonho? Na Terra, ou naquela colônia espiritual? Que teria sucedido a Zélia e aos filhinhos? Por que razão me prestavam ali tão grande esclarecimentos sobre as mais variadas questões da vida, omitindo, contudo, qualquer notícia pertinente ao meu antigo lar? Minha própria mãe me aconselhara o silêncio, abstendo-se de qualquer informação direta.

Tudo indicava a necessidade de esquecer os problemas carnais, no sentido de renovar-me intrinsecamente, e, no entanto, penetrando os recessos do ser, encontrava a saudade viva dos meus. Desejava ardentemente rever a esposa muito amada, receber de novo o beijo dos filhinhos… Por que decisões do destino estávamos agora separados, como se eu fosse um náufrago em praia desconhecida? Simultaneamente, ideias generosas confortavam-me o íntimo. Não era eu o náufrago abandonado. Se minha experiência podia classificar-se como naufrágio, não devia o desastre senão a mim mesmo. Agora que observava em “Nosso Lar” vibrações novas de trabalho intenso e construtivo, admirava-me de haver perdido tanto tempo no mundo em frioleiras de toda sorte.

Em verdade, muito amara a companheira de lutas e, sem dúvida, dispensara aos filhinhos ternuras incessantes; mas, examinando desapaixonadamente minha situação de esposo e pai, reconhecia que nada criara de sólido e útil no espírito dos meus familiares. Tarde verificava esse descuido. Quem atravessa um campo sem organizar sementeira necessária ao pão e sem proteger a fonte que sacia a sede, não pode voltar com a intenção de abastecer-se. Tais pensamentos instalavam-se me no cérebro com veemência irritante. Ao deixar os círculos carnais, encontrara as penúrias da incompreensão. E que teria sucedido à esposa e aos filhinhos, deslocados da estabilidade doméstica para as sombras da viuvez e da orfandade? Inútil interrogação.

O vento calmo parecia sussurrar concepções grandiosas, como que desejoso de me espertar a mente para estados mais altos.

Torturavam-me as inquirições internas, mas, prendendo-me então aos imperativos do dever justo, aproximei-me da grande cancela, investigando além, através dos campos de cultura.

Tudo luar e serenidade, céu sublime e beleza silenciosa! Extasiandome na contemplação do quadro, demorei alguns minutos entre a admiração e a prece.

Instantes depois, divisei ao longe dois vultos enormes que me impressionaram vivamente. Pareciam dois homens de substância indefinível, semiluminosa. Dos pés e dos braços pendiam filamentos estranhos, e da cabeça como que se escapava um longo fio de singulares proporções. Tive a impressão de identificar dois autênticos fantasmas. Não suportei. Cabelos eriçados, voltei apressadamente ao interior. Inquieto e amedrontado, expus a Narcisa a ocorrência, notando que ela mal continha o riso.

– Ora essa, meu amigo – disse, por fim, mostrando bom humor -, não reconheceu aquelas personagens?

Fundamente desapontado, nada consegui responder, mas Narcisa continuou:

– Também eu, por minha vez, experimentei a mesma surpresa, em outros tempos. Aqueles são os nossos próprios irmãos da Terra. Trata-se de poderosos espíritos que vivem na carne em missão redentora e podem, como nobres iniciados da Eterna Sabedoria, abandonar o veículo corpóreo, transitando livremente em nossos planos. Os filamentos e fios que observou são singularidades que os diferenciam de nós outros. Não se arreceie, portanto. Os encarnados, que conseguem atingir estas paragens, são criaturas extraordinariamente espiritualizadas, apesar de obscuras ou humildes na Terra.

E, encorajando-me bondosamente, acentuou:

– Vamos até lá. Temos quarenta minutos depois de meia-noite. Os Samaritanos não podem tardar. Satisfeito, voltei com ela ao grande portão.

Lobrigava-se, ainda, a enorme distância, os dois vultos que se afastavam de “Nosso Lar”, tranqüilamente.

A enfermeira contemplou-os, fez um gesto expressivo de reverência e exclamou:

– Estão envolvidos em claridade azul. Devem ser dois mensageiros muito elevados na esfera carnal, em tarefa que não podemos conhecer.

Ali estivemos, minutos longos, parados na contemplação dos campos silenciosos. Em dado momento, porém, a bondosa amiga indicou um ponto escuro no horizonte enluarado, e observou:

– Lá vêm eles!

Identifiquei a caravana que avançava em nossa direção, sob a claridade branda do céu. De repente, ouvi o ladrar de cães, a grande distância.

– Que é isso? – interroguei, assombrado.

– Os cães – disse Narcisa – são auxiliares preciosos nas regiões obscuras do Umbral, onde não estacionam somente os homens

desencarnados, mas também verdadeiros monstros, que não cabe agora descrever.

A enfermeira, em voz ativa, chamou os servos distantes, enviando um deles ao interior, transmitindo avisos.

Fixei atentamente o grupo estranho que se aproximava devagarinho.

Seis grandes carros, formato diligência, precedidos de matilhas de cães alegres e bulhentos, eram tirados por animais que, mesmo de longe, me pareceram iguais aos muares terrestres. Mas a nota mais interessante era os grandes bandos de aves, de corpo volumoso, que voavam a curta distância, acima dos carros, produzindo ruídos singulares.

Dirigi-me, incontinenti, a Narcisa, perguntando: – Onde o aeróbus? Não seria possível utilizá-lo no Umbral? Dizendo-me que não, indaguei das razões. Sempre atenciosa, a enfermeira explicou: – Questão de densidade da matéria. Pode você figurar um exemplo com a água e o ar. O avião que fende a atmosfera do planeta não pode fazer o mesmo na massa equórea. Poderíamos construir determinadas máquinas como o submarino; mas, por espírito de compaixão pelos que sofrem, os núcleos espirituais superiores preferem aplicar aparelhos de transição. Além disso, em muitos casos, não se pode prescindir da colaboração dos animais. – Como assim? – Perguntei, surpreso. – Os cães facilitam o trabalho, os muares suportam cargas pacientemente e fornecem calor nas zonas onde se faça necessário; e aquelas aves – acrescentou, indicando-as no espaço -, que denominamos íbis viajores, são excelentes auxiliares dos Samaritanos, por devorarem as formas mentais odiosas e perversas, entrando em luta franca com as trevas umbralinas. Vinha, agora, mais próxima a caravana. Narcisa fixou-me com bondosa atenção, rematando: – Mas, no momento, o dever não comporta minudências informativas. Poderá colher valiosas lições sobre os animais, não aqui, mas no Ministério do Esclarecimento, onde se localizam os parques de estudo e experimentação. E distribuindo ordens de serviço, aqui e acolá, preparava-se para receber novos doentes do espírito.

Aconselhamos aos amigos leitores, estudar a obra completa.

Equipe Visão Espírita

1 Comentário

  • Ja lí Nosso Lar e também ja assisti ao filme. Ja estudei com o grupo a que pertenço e muitas lições maravilhosas foram colhidas. Sem levar em conta a polêmica em torno do filme/livro, a leitura é muito proveitosa e edificante.

Então, O que achou?