13 maio
2011

Narrativa de telenovela

As Mães de Chico Xavier tem narrativa de telenovela espírita

Por: Leonardo Vinicius Jorge

 

 
 

Foto: MTV

O espiritismo está se tornando um subgênero no cinema brasileiro, e de grande sucesso comercial: “Bezerra de Menezes – O Diário de Um Espírito” (dirigido por Glauber Filho e Joe Pimentel) chamou a atenção do público em 2008 e deu início à produção de diversas obras que homenagearam o centenário de Chico Xavier, caso de “E a Vida Continua”, de Paulo Figueiredo, baseado no livro homônimo do médium, e do documentário “As Cartas Psicografadas de Chico Xavier”, de Cristiana Grumbach, sobre as famílias que buscaram a ajuda do espírita após a perda de entes queridos. Mas foram o filme “Chico Xavier” e a megaprodução “Nosso Lar” que alcançaram marcas recordes de bilheteria e confirmaram a força do gênero: tanto a cinebiografia dirigida por Daniel Filho quanto a adaptação do livro mais famoso psicografado pelo médium (dirigida por Wagner de Assis) superaram expectativas, ultrapassando juntas a marca de 7 milhões de espectadores.

 

“As Mães de Chico Xavier” encerra agora as homenagens e deve repetir o êxito na bilheteria, já que traz as características de seus antecessores, a começar pelo ator Nelson Xavier, que volta a interpretar o líder espírita, desta vez com idade mais avançada que no filme anterior. Os próprios produtores consideram o novo longa a conclusão de uma trilogia sobre Chico.

 
 

Foto: MTV

Dirigido por Glauber Filho e Halder Gomes, e baseado no livro “Por Trás do Véu de Isis”, do jornalista Marcel Souto Maior, o filme centra-se na vida de três mães que buscam nas palavras do médium o conforto da perda de entes queridos. E o elenco não decepciona: Via Negromonte utiliza-se do silêncio para mostrar a dor que sente com o péssimo relacionamento com seu filho, dependente químico; Vanessa Gerbelli segura as pontas no papel da mulher ignorada pelo marido e que precisa se erguer após a morte do pequeno filho; e Tainá Müller, que vem conquistando seu espaço desde “Cão Sem Dono” (2007) e “Tropa de Elite 2″ (2010), interpreta uma jovem professora em crise com sua gravidez não planejada.

 

Foto: MTV

Apesar de a produção negar que este seja um filme doutrinário, fica evidente a vontade de oficializar a autenticidade do espiritismo, utilizando-se como condutor o jornalista interpretado por Caio Blat, que, se é cético e tira sarro das imagens de Chico Xavier quando recebe a proposta de fazer uma reportagem sobre o médium, torna-se um defensor e divulgador da religião de Allan Kardec ao longo da trama. Quando o jornalista pergunta ao seu chefe qual versão ele deve buscar em sua reportagem, a resposta é enfática: “A verdade”.

 

“Nosso Lar” trazia os efeitos especiais como chamariz e “Chico Xavier” tinha uma montagem interessante, com flashbacks e suspense. Já o filme de Glauber Filho e Halder Gomes deixa apenas para o último ato os acontecimentos, forçando o espectador a esperar por algo que ele já sabe que vai acontecer desde o começo do filme. Enquanto isso, alternam-se diversas imagens de nuvens – que remetem ao Paraíso –, e trilha musical típica das telenovelas globais que também trazem o espiritismo nas entrelinhas.

A linguagem de novela é o maior problema de “As Mães de Chico Xavier”. É evidente que seu público-alvo não espera uma narrativa muito diferente do que está acostumado a ver na TV, mas seu desenvolvimento é lento e pode incomodar.

 
 

Foto: MTV

A mensagem antiaborto no final reforça a posição doutrinária, no entanto é coerente com a trama. Agora, o “momento” “Ghost – Do outro Lado da Vida”, após uma cena de acidente de ônibus, é totalmente desnecessário e já está bem batido no cinema.

 

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