2 fev
2012

TATUAGENS PIERCINGS E OUTROS ADEREÇOS

TATUAGENS PIERCINGS E OUTROS ADEREÇOS SOB O PONTO DE VISTA ESPÍRITA

Alguém nos questionou se usar uma tatuagem na pele teria influência sobre o perispírito. Há dirigentes de casas espíritas advertindo que todas as pessoas que fizeram ou pensam em gravar tatuagens ou usar piercings, automaticamente estarão em processo de obsessão. Alguns cristãos baseiam-se nas Antigas Escrituras, onde encontramos advertência aos israelitas “que não deveriam marcar o corpo, fazer cicatrizes com açoites como autoflagelo, por nenhum motivo.” (1)
Conhecemos líderes espíritas convictos de que pessoas que tatuam o corpo inteiro ou o enchem de piercings, são espíritos primários que ainda carregam lembranças intensas de  experiências  pretéritas, sobretudo dos  tempos dos bárbaros, quando belicosos e cruéis   serviam-se dessas marcas na pele para se impor ante os adversários.
Positivamente não identificamos pontos de caráter prático o uso de tatuagens, especialmente se a lesão imposta ao próprio corpo for por mero capricho, isso sim! Refletirá invariavelmente no perispírito, já que, sendo o corpo físico (templo da alma) um consentimento divino para nossas provas e expiações, devemos mantê-lo dignamente protegido e saudável. Entretanto, será que o uso de piercings e tatuagens sobrepujam qualidades morais? Quem pode penetrar na intimidade do semelhante e saber o que aí ocorre?


Sob a percepção histórica,  a tatuagem é uma técnica ancestral que se esvai na memória cultural das civilizações. Antigamente eram aplicadas para marcar o corpo de um escravo com o símbolo do proprietário. Gravavam-se corpos das prostitutas com o emblema de um reino, governo ou estado. Servia para estigmatizar o corpo da mulher adúltera. Ainda hoje é tradição seu uso no corpo de príncipes de tribos beduínas, africanas e das ilhas do pacífico.
Presentemente servem para marcar o corpo de membros de gangues, grupos de atletas esportistas (surfe, motociclismo), “beatniks” (movimento sociocultural nos anos 50 e princípios dos anos 60 que subscreveram um estilo de vida antimaterialista, na sequência da 2.ª Guerra Mundial.), hippies, roqueiros e alastrados principalmente entre jovens comuns dos dias de hoje.
Os que se tatuam devem procurar identificar seus motivos íntimos. Recordemos que o corpo é o templo do Espírito e não nos pertence, portanto, é importante preservá-lo contra agressões que possam mutilar a sua composição natural. Há os que usam vários brincos, piercings e outros adereços. Haveria a mutilação espiritual por causa desses apetrechos? Talvez sim, possivelmente não! O certo é que o perispírito é efetivamente lesado pela defecção moral, desequilíbrio emocional que leva a suicídios diretos e indiretos, vícios físicos e mentais, rancores, pessimismos, ambição, vaidade desmesurada, luxúria.
Esfola-se o corpo espiritual todas as vezes que se prejudica o semelhante através da maledicência, da agressividade, da violência de todos os níveis, da perfídia, destarte, analisado por esse prisma, os adereços afetam menos o corpo perispirítico. Principalmente porque atualmente muitos desses adornos que ferem o corpo físico podem ser revertidos, já na atual encanação, e naturalmente não repercutirá no tecido perispiritual.
André Luiz elucida que o perispírito não é reflexo do corpo físico; este é que interfere no outro. “As lesões do corpo físico só terão, pois, repercussão no corpo espiritual se houver fixação mental do indivíduo diante do acontecido, ou se o ato praticado estiver em desacordo com as leis que regem a vida.” (2)  As tatuagens e as pequenas mutilações que alguns indivíduos elaboram como forma de demonstrar amor a exemplo de alguém que grava o nome do pai ou da mãe no corpo de modo discreto  não trariam, logicamente, os mesmos efeitos  que ocorreriam com aqueles que se tatuam de modo resoluto, movimentados por anseios mais grosseiros.
Curiosamente, muitas pessoas, retornando ao plano espiritual, podem optar pelo uso  dos adornos aqui discutidos. Segundo autor do livro Nosso Lar,  “os desencarnados podem, sob o ponto de vista fluídico, moldar mentalmente e de maneira automática, no mundo dos Espíritos, roupas e objetos de uso e gosto pessoal. Destarte, é perfeitamente possível, embora lamentemos,  que um ser no além-túmulo permaneça condicionado aos vícios, modismos e tantas outras coisas frívolas da sociedade terrena.” (3)
No que concerne às tatuagens, especificamente, por ser um tipo de insígnia permanente, pode, sem dúvida, ocasionar conflitos mentais. A começar na atual encarnação quando chega a ocasião em que o tatuado se arrepende, após ter mudado de idéia, em relação à finalidade da tatuagem. Concebamos que seja o apelido, sobrenome, o desenho ou algum emblema de alguma pessoa que já não estima, não ama, ou qualquer outra silueta que já não aceita em seu corpo. Então,  o que era um mero enfeite, culmina cansando a estética e torna-se um problema particular  de complexa solução.
Então  por que a pessoa se permite tatuar? Nas culturas primitivas  se usava com finalidades mágicas, para evocar a interferência de divindades, para o bem ou o mal. Hoje é, para muitos indivíduos, uma espécie de ritual de passagem, envolvendo a integração num grupo. Pode ser também de identificação. Pela tatuagem a pessoa está dizendo algo de si mesma.
Nas estruturas dos códigos espíritas  não há espaços para proibições. Não obstante, a Doutrina dos Espíritos oferece-nos subsídios para ponderação a fim de que decidamos racionalmente sobre o que, como, quando , onde fazer ou deixar de fazer (livre-arbítrio). Evidentemente que não é o uso de tatuagens que retratará a índole e o caráter de alguém. Todavia, não podemos perder de vista que alguns modelos de tatuagens, com pretextos sinistros, podem ser classificados (sem anátemas) como censuráveis e inadequados para um cristão de qualquer linhagem.
Nesse contexto, é importante compreender a pessoa de forma integral. As características  anunciadas no corpo são resultados de seus estados mentais,  reflexos das experiências culturais, aprendizados e interpretação de mundo. Como dissemos o Espiritismo não proíbe nada e fornece-nos as explicações para os fenômenos psíquicos. Assim sendo, as recomendações doutrinárias não combatem, porém conscientizam! Não são indiferentes aos dramas existenciais e demonstra como edificar e marchar no mais acautelado caminho.
Dissemos que o uso piercings e outros adereços e da própria tatuagem por si só não caracteriza alguém com ou sem moralidade. Porém, investiguemos as causas dessas atitudes. Quais sãos os anseios, os sonhos, as crenças dos que cobrem seus corpos com tais marcas? Tatuagens, piercings, são estágios transitórios.  Importa alcançar, porém, se tais indivíduos estão mutilados psíquicos, emocional e espiritualmente. O que os conduz muitas vezes a despedaçar a barreira da ponderação e do juízo? Por que atentam contra si submetendo-se a dores e sofrimentos incompreensíveis? Para uns o motivo é o modismo. Para outros, todavia, ainda se acham atrelados a costumes de outras existências físicas e trafegam do mundo inconsciente para o consciente, derivando na transfiguração do corpo biológico.
Perante questões controversas, as mensagens kardecianas buscam na intimidade do ser o seu real problema. Convidam-nos ao autoconhecimento e ao estágio do auto-aprimoramento. Sugere-nos sensatez, autoestima, altivez, comedimento e a busca incessante de Deus, o Exclusivo Ente, que facultara-nos completar de contentamento e paz de consciência.

Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

Referência bibliográfica:

(1)    Levítico 19.28; Deuteronômio 14.1-2.
(2)    Xavier, Francisco Cândido e Vieira , Waldo. Evolução em dois mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro, Ed. FEB, 1959.
(3)    Xavier, Francisco Cândido. Nosso Lar, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1955.

Jorge Hessen

Jorge Hessen, nascido no Rio de Janeiro a 18/08/1951, Servidor Publico Federal, residente em Brasília desde 1972. Formado em Estudos Sociais com ênfase em Geografia e Bacharel e Licenciado em História pela UnB. Escritor livros publicados: Luz na Mente publicada pela Edicel, Praeiro, um Peregrino nas Terras do Pantanal publicado pela Ed. do Jornal Diário de Cuiabá/MT, Anuário Histórico Espírita 2002, uma coletânea de diversos autores e trabalhos históricos de todo o Brasil, coordenado pelo Centro de Documentação Histórica da União das Sociedades Espíritas de São Paulo – USE. Articulista com textos publicados na Revista Reformador da FEB, O Espírita de Brasília, O Médium de Juiz de Fora, Brasília Espírita, Mato Grosso Espírita, Jornal União da Federação Espírita do DF. Artigos publicados na Revista eletrônica O Consolador, no Jornal O Rebate, Diário da Manhã, site da Federação Espírita Espanhola, site da Espiritismogi.com.br

3 Comentários

  • Boa noite, muito boa a matéria, principalmente a parte que não proibi e nem recrimina qualquer pessoa por usar pircings ou tatuagens, acho que uma tatuagem muitas vezes fala algo que as pessoas pensam e querem expressar de alguma maneira.
    Mas também não concordo HOJE, com a mutilação do corpo, pois como todo ser humano, já errei, já usei pircing, porém está é uma fase temporária, logo depois você pode tira-lo, tatuagem é mais complicado, mas acontece a mesma coisa, você pode remove-la, são todas provações e desafios que passamos na nossa vida, e que algumas vezes nós superamos nessa vida outras não…
    abração a todos, 😀

  • Muito esclarecedor. Parabéns!

  • Bom Dia, ótimas explicações e esclarecimentos sobre a mutilação do corpo, assunto de suma importância para os jovens e adultos, devemos ter em mente a questão do livre arbítrio.

    Seria bom que todos jovens e adultos controlasse seus impulsos,para em uma faze adiante não sofressem as conseqüências de atos impensados.

    abraço fraternal a todos os leitores deste magnifico artigo

Então, O que achou?