17 ago
2011

A CAIXA MISTERIOSA

Ronan era o caçula de três irmãos e tinha nove anos. Os outros eram Ricardo, de dez, e Renato, de onze. Eram fisicamente parecidos, mas tinham gênios diferentes: Renato era alegre e comunicativo, Ricardo era mais quieto, introvertido, e Ronan tinha uma característica que lhe valera o apelido de “Estopim Curto” – não gostava de esperar por nada, perdia a paciência por qualquer coisinha, não suportava críticas, embora vivesse criticando as pessoas e os acontecimentos. Por essa sua particularidade, o clima à sua volta era, geralmente, muito tenso, cheio de reclamações e brigas. As pessoas ficavam nervosas e ressentidas com Ronan, e a situação estava tão difícil, que mamãe,comentando-a com tia Lena, dela recebeu a promessa de ajuda.

Numa tarde, tia Lena chegou à casa de Ronan com uma grande caixa colorida. Iria usá-la em uma tentativa para ver se ajudava o garoto a mudar sua desagradável maneira de agir.

Mas, que haveria dentro da caixa?

Foi o que as crianças perguntaram à tia Lena, curiosas. Ao que ela respondeu:

– Vocês sabem que para termos uma vida mais feliz é preciso saibamos cultivar certasqualidades que facilitam a convivência de uns para com os outros. E com a Natureza aprendemos sobre estas qualidades. Esta caixa eu a denominei ARCA DOS TESOUROS DA NATUREZA. Contém vários materiais sobre os quais iremos conversar, mas a caixa não poderá ser aberta.

Os meninos estavam cada vez mais intrigados, e falaram em uma só voz:

– Como será isto?

– Iremos enfiar a mão pela abertura de pano, segurar um objeto, tentar identificá-lo pelo tato, e só então o retiraremos daí. Quem quer começar?

– Eu, eu! – falou Renato.

Enfiando a mão na caixa, Renato segurou uma coisa “molinha”, cheia de carocinhos … Que seria aquilo?

– Acho que é uma sacolinha com alguma coisa dentro …

– Tira, tira, vamos ver o que é! – gritaram todos. Até mamãe, que já estava a participar da brincadeira.

Renato tirou da caixa um saquinho de plástico transparente, dentro do qual havia várias SEMENTES.

– Coloque-o aqui sobre a mesa – disse tia Lena.

– Agora sou eu – falou Ricardo.

– Nada disso, agora sou eu, porque o Renato já entrou na minha frente – gritou Ronan,empurrando o irmão.

– Calma, Ronan – interveio tia Lena. Deixe o Ricardo experimentar. Estamos fazendo uma brincadeira e o clima é de alegria, sem agressões ou intolerância.

Ronan ficou meio envergonhado ante as palavras da tia, a quem muito respeitava, e por perceber que estava “destoando” do grupo …

Ricardo enfiou a mão na caixa. Tateou, tateou e agarrou uma coisa comprida e meio pontuda.

Mexeu um pouco e notou que eram duas coisas encaixadas, e uma delas se movia … Que seria?

– Tira, tira – novamente gritaram os outros. Vamos ver que “coisa” é esta …

E Ricardo tirou da caixa … UMA SERINGA DE INJEÇÃO!

– Coloque-a junto das sementes – falou tia Lena.

-Agora o Ronan. Vamos lá! – disse mamãe.

Um pouco emburrado o garoto colocou a mão na caixa, e logo fez uma careta.

– Argh! … Pequei algo mole e frio, parece uma gosma …

– Hummmm … – fizeram os outros. Que poderia ser?

Tirando a mão da caixa, Ronan mostrou uma porção de ARGILA, contida em um saco plástico.

Era mesmo mole e fria …

– Agora a mamãe – falou tia Lena.

Leda (este era o nome da mamãe), sorrindo, colocou a mão na caixa, sob o olhar divertido das crianças.

– Ela vai pegar um sapo! Ou uma barata morta! Aposto que vai pegar uma lagartixa! – gritaram os meninos, tentando assustar a mãe, enquanto riam às gargalhadas.

– Acho que peguei mesmo um bicho … Coisa engraçada … É arredondada, meio mole, tem umas curvas, posso apertá-la …

Num movimento rápido, Leda puxou para fora o objeto, mostrando a todos uma … ORELHA DE BORRACHA!

– Já temos material para conversar, crianças – se pronunciou tia Lena. Vejamos aqui sobre a mesa … Temos SEMENTES, SERINGA DE INJEÇÃO, ARGILA e uma ORELHA DE BORRACHA.

– Vamos começar pelo Ronan. Estas são sementes de mamão; olhando-as, em que você pensa?

– Ah … penso que gosto muito de mamão com açúcar!

– Realmente, mamão é uma delícia, mesmo sem açúcar – falou tia Lena. Mas, para termos o mamão, já pensaram no que a semente tem que tolerar? Fica na terra escura, agüentando a solidão …

Depois brota, cresce, aceita a poda … então frutifica que é uma beleza! A semente nos ensina a TOLERAR, não acham?

– Agora o Ricardo. Que lhe faz lembrar a seringa?

– Me lembro das injeções que tomei quando tive aquela infecção de garganta e não podia comer… Como doeram! E foram seis injeções!

– É, mas você sarou. Suportando a dor da injeção você recebeu o medicamento necessário à sua cura. Não valeu a pena? Também na vida precisamos saber tolerar dores e dificuldades, delas tirando o melhor proveito para nosso aprendizado …Assim, a injeção também nos ensina a … TOLERAR – concluiu tia Lena.

– E você, Renato, que nos pode falar a respeito da argila?

– Hum … com a argila podemos fazer muitos objetos e utilidades. Mas será preciso modelá-la, levá-la ao forno para endurecer, lixar a peça para receber a pintura …

– Muito bem – comentou tia Lena. Para transformar-se em algo útil, a argila suporta pressão, calor, lixa … Ela nos ensina a …

– TOLERAR! TOLERAR!

– E você, Leda? Que nos pode dizer sobre a orelha? – indagou tia Lena.

– Serve para apoiar os óculos! – disse, rindo, o Renato.

Todos sorriram com a observação, e mamãe respondeu:

– Esta orelha me faz lembrar um conselho que papai nos deu, Lena, quando éramos crianças, do qual nunca me esqueci. Ele disse: – Minhas filhas, temos dois ouvidos e uma boca. Procuremos ouvir mais e falar menos, guardando paciência e prudência diante de qualquer situação. Assim, evitamos muitos problemas e resolvemos melhor os que surjam. Lembra-se, Lena?

– É verdade – falou tia Lena. E continuou: Vocês viram , crianças, com esta brincadeira quantas coisas podemos aprender com a Natureza. Hoje tivemos exemplos de tolerância. Quem não sabe suportar as dificuldades, ter paciência ante os obstáculos, dificilmente será uma pessoa tranqüila e feliz.

Nunca se esqueçam disso. E agora tenho que voltar para casa pois seu tio já deve estar me esperando …

– Tia Lena, pode deixar a caixa com a gente para brincarmos mais um pouco? – perguntaram as crianças.

– Podem ficar com ela sim. E continuem a descobrir a lição que cada objeto aí de dentro pode nos dar. Amanhã me contem o que acharam …

Mexendo no interior da caixa, os meninos foram descobrindo várias outras coisas, entre elas, um prego, uma miniatura de guarda-chuva, uma panela … O que vocês acham que esses objetos toleram para cumprir o objetivo para o qual existem?

(história, desenhos e atividade: AME-JF/MG)

 

1 Comentário

  • Uma bela mensagem, passada de forma leve e agradável, e é bem verdadeiro sim, como é importante a tolerância para moldarmos o nosso espírito de forma a ir corrigindo as imperfeições, obrigada Mauricio por compartilhar, beijos Luconi

Então, O que achou?