17 ago
2013

Casa Espírita Amazonas Hércules: 28 anos

Casa Espírita Amazonas Hércules: há 28 anos a
serviço do próximo  

A instituição atua desde 1985 em Jacarepaguá-RJ, às 
margens do Canal do Anil

Por Marcus Braga

Marcus Braga - Arquivo VE

Marcus Braga – Arquivo VE

 
Às margens do Canal do Anil, em Jacarepaguá, segue desde 1985 a Casa Espírita Amazonas Hércules, atendendo materialmente e espiritualmente aquela comunidade

Como se vê, sofre os meus, sofre os teus, cuidemos deles são todos filhos de Deus.” Embalado por essa canção e por tantas outras, nos idos de 1990, as minhas manhãs de domingo eram presenteadas pelo trabalho do Canal do Anil, na então “Casa Espírita Filhos de Deus”, um casebre simples à beira de um rio já maltratado pela ação do homem, que surgia após quase dois quilômetros de caminhada em uma estrada de barro ladeada por palafitas simples.

Ali trabalhei integrado à Mocidade Mariana do Centro Espírita de Jacarepaguá, a “Casa de Agostinho”, na evangelização de jovens e crianças da comunidade, alternando o evangelho a aulas de higiene, tudo com muita música e fraternidade.Inspirados pelo exemplo de nossos dirigentes, Moacyr  e Isabel Cristina (Isabig), essa experiência tão marcante me levou a escrever, dez anos depois, o livro “Alegria de Servir”, publicado pela editora da FEB, que apresenta em uma breve historieta a importância da realização do trabalho social pelo jovem.Já contextualizados do meu envolvimento com a casa e com a causa, vamos conhecer junto um pouco o trabalho e a história da Casa Espírita Amazonas Hércules. O nome da casa se deve ao seu idealizador, o companheiro Amazonas Hércules, um herói das lutas espíritas no hospital de hanseníase do Curupaiti, situado também em Jacarepaguá, à frente de outra instituição de nome similar, o Centro Espírita Filhos de Deus.Como era o trabalho nos primeiros anosFundada em 13/5/1985 com o nome de “Casa Espírita Filhos de Deus” por um grupo de pessoas abnegadas da região de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, o trabalho à beira do Canal do Anil consistia na palestra, na evangelização e na ação social no sábado à tarde, culminando com a famosa peregrinação, na qual os tarefeiros, destacando-se entre outros os amigos Vitor, Sérgio, Alípio e a Tia Terezinha, visitavam as casas com seu inseparável violão, oferecendo a palavra amiga e a oração, dentro daquela comunidade tão carente.

Nos meados de 1990, os dirigentes da Mocidade Mariana (já citados) do Centro Espírita de Jacarepaguá perceberam a necessidade de iniciar a vivência da prática da caridade entre os jovens. Moacyr, um dos dirigentes, trouxe a sua experiência com jovens no trabalho realizado em Rezende-RJ com os alunos da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e iniciou-se ali, de forma ousada e inovadora, um trabalho no domingo de manhã; e, após o trabalho, seguiam todos para o estudo na juventude, em uma fraterna caminhada ensolarada pelos quase dois quilômetros da Avenida Canal do Anil até o ponto do ônibus.

Inicialmente, o objetivo desse trabalho realizado pela juventude era despertar os laços de carinho pelas crianças, trabalhar o nosso coração. Não havia  planejamento, nós fazíamos simplesmente a recreação com música e brincadeiras. Com o passar do tempo, os laços se estreitaram e surgiu a necessidade de iniciar atividades com planejamento e foco na Doutrina Espírita.

Devido ao fato de a Casa ser um barracão de madeira que não comportava todas as turminhas, as atividades eram realizadas na calçada, ao ar livre,  ou ainda nas casas das crianças.

 Casa do Anil em 2009

Canal do Anil em 2009

 Festa de atal na CEAH

Festa de Natal na CEAH

 Estudos na CEAH

Estudos na CEAH

 Mocidade da CEAH

Mocidade da CEAH

 Canal do Anil no domingo de manhã

Canal do Anil no domingo de manhã

A Casa Espírita Amazonas Hércules hoje

O trabalho foi amadurecendo, os trabalhadores também, e em 2007 aconteceu a união com as atividades que eram também realizadas aos sábados, integrando e fortalecendo aquela que deixava de ser apenas um posto avançado do Centro Espírita Filhos de Deus (Hospital do Curupaiti), para se tornar realmente uma casa espírita autônoma, incrustada naquela comunidade. 

As carências de estrutura representam um capítulo à parte na história da Casa. A despeito das enchentes frequentes, em 1998 iniciou-se a construção de uma sede de alvenaria, que veio a ceder em 2000, como uma prova da resistência e fé dos trabalhadores. Posteriormente em 2002, no terreno ao lado do que cedeu, iniciou-se a construção da sede que está em uso atualmente, concluída em 2010. Com o desencarne de Amazonas Hércules, a casa recebe seu nome em uma justa e fraterna homenagem.

A Casa hoje funciona com ações sociais de cestas básicas e bazar, além da evangelização infantojuvenil (com atendimento fraterno), alfabetização de adultos, reunião de estudo doutrinário e de mediunidade, culto no lar e peregrinação, tendo cerca de 150 frequentadores, entre adultos e crianças.

Curiosamente, muitas daquelas crianças da década de 1990, e que eram alunos, hoje trabalham na casa e trazem seus filhos. Da mesma forma, alguns daqueles jovens da Mocidade Mariana se tornaram adultos atuantes no trabalho.

Mais do que uma casa espírita em uma comunidade materialmente carente, a Casa Espírita Amazonas Hércules representa o enlace de Espíritos no trabalho no bem, no amadurecimento na seara do Cristo. Uma geração ali cresceu e a comunidade entendeu que ali era mais do que um local de distribuição de cestas, e sim um espaço de emancipação na questão espiritual e de entendimento das questões da vida por outro prisma.

A Casa cresceu com a própria comunidade – Da mesma forma, de maneira emblemática, o trabalho no Canal do Anil representa o resgate do trabalho de cunho social na seara espírita, em baixa cotação nos dias de hoje e que nos permite, com sua dimensão, mexer no nosso coração diante da dor material do próximo, em um exercício de caridade que nos amadurece para a vida mais além.

Apresentou esse trabalho também, a despeito do medo e das críticas, a necessidade de o jovem mergulhar de forma autônoma e protagonista na seara do bem, forjando em seu caráter aquele espírita amadurecido que promoverá outros trabalhos na fase adulta. Como diziam os dirigentes da Mocidade Mariana, se não rompermos essas dificuldades do trabalho no bem como jovens, como adulto o verniz e o papel social tornarão esse desafio muito mais complexo.

Além disso, a casa que cresceu com a comunidade (que se potencializou em função das ações da competição do Pan no Rio de Janeiro) representa um espaço de estudo e de trabalho no campo da espiritualidade daquelas pessoas, sendo um exemplo de iluminação, de respeito às peculiaridades do local e, ainda, de valorização das atividades educativas.

Reproduzindo as palavras do próprio Amazonas, saudoso companheiro, sobre o trabalho no Canal do Anil: “Reflitamos sobre a grande importância de cada trabalhador que aqui atua… O compromisso já existe e é preciso que vocês, ferramentas de trabalho, estejam atentos aos chamados. Contamos com a colaboração de cada um de vocês. Cada um aqui é um ponto de amor, de esperança e de luz”. Essas palavras nos remetem à existência de grande seara invisível às nossas mentes, ocupadas com coisas inúteis. Entretanto, a soma desses trabalhos, como pontos de luz, é que fazem do nosso céu estrelado, a guiar-nos pelas estradas da encarnação.

O leitor encontra este texto também neste link > http://www.oconsolador.com.br/ano7/325/especial2.html

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