Espiritismo Ressurge na Europa
Espiritismo Ressurge na Europa
Josef Jackulak, dirigente da Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec, de Viena (Áustria), comenta as perseguições contra o Espiritismo na segunda metade do século XX e o seu ressurgimento em países da Europa Central.
Como surgiu a Sociedade Espírita em Viena?
A Sociedade para Estudos Espíritas Allan Kardec (Verein für spiritistische Studien Allan Kardec – VAK), de Viena, teve seu início em 1987, quando dois irmãos brasileiros espíritas, Túlio e Lena, que estudavam em Viena, sentiram saudade do Movimento Espírita de seu país, e começaram a estudar as obras básicas de Allan Kardec. Casualmente, nós os conhecíamos, e fomos convidados a participar desses estudos. Embora católico, aceitamos o convite pela curiosidade, pois a questão dos Espíritos sempre nos interessou.
No outono do mesmo ano, os dois irmãos viajaram a Paris para se encontrar com o orador Divaldo Pereira Franco, e convidaram-no para vir à Áustria. No verão de 1988, em companhia de Nilson de Souza Pereira, Divaldo Franco veio proferir a primeira palestra espírita, depois da 2a Guerra Mundial, em Viena. Desde então, apoia a formação do grupo, visitando-nos anualmente. Em agosto de 1989, visitou-nos o orador José Raul Teixeira, apoiando-nos também. Os irmãos Túlio e Lena voltaram para o Brasil e, apesar de nos sentirmos despreparados, continuamos os estudos em nossa casa em companhia de amigos brasileiros e austríacos. Quando nos sentimos mais seguros, em dezembro de 1999, registramos oficialmente a Sociedade e realizamos a primeira assembleia no dia 29 de abril de 2000.
Quais são as atividades do VAK?
Desde o começo, a Sociedade dedica-se ao estudos das obras básicas do Espiritismo. Estudamos, várias vezes, O Livro dos Espíritos, O Evangelho segundo o Espiritismo e O Livro dos Médiuns, complementando-as com O Céu e o Inferno e A Gênese, e estudando também obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco e José Raul Teixeira. Durante estes anos tivemos diferentes formas de organizar nossas atividades. Realizamos semanalmente: a reunião “ponto de luz”, que consiste de breve leitura e comentário do Evangelho, de orações em favor dos necessitados, por acontecimentos do momento e pela paz mundial.
Ela serve, ao mesmo tempo, como preparação para a reunião mediúnica, que se inicia em seguida; reunião para estudo mediúnico, em que adotamos o livro Qualidade na Prática Mediúnica, do Projeto Manoel Philomeno de Miranda (Editora LEAL). Segue-se a palestra pública, cujo tema é referente ao estudo de O Livro dos Espíritos, e da obra de Joanna de Ângelis, O Despertar do Espírito. Após a palestra há aplicação de passes. A terceira reunião contempla o atendimento fraterno, seguido de palestra pública sobre O Evangelho segundo o Espiritismo e sobre o livro Amor Imbatível Amor, de Joanna de Ângelis. Duas vezes por mês, oferecemos um encontro para as crianças, a fim de atender os futuros adultos e, quem sabe, nossos futuros frequentadores e trabalhadores. No último sábado de cada mês, depois da palestra, realizamos o encontro fraterno, onde oferecemos lanche. Temos visitado os países vizinhos: a República Tcheca e a Eslováquia.
Vocês têm apoiado a formação inicial de grupos em países vizinhos?
O VAK colabora com países vizinhos. No verão de 1989, ainda no tempo da “cortina de ferro”, durante a estada de Divaldo Franco e de Nilson de Souza Pereira, planejamos visitar a antiga Tchecoslováquia no ano seguinte. Pensávamos em reunir, em Praga, um grupo de pessoas na casa de um amigo para falar sobre o Espiritismo. Seria um teste da coragem, pois como tcheco, refugiado do comunismo, conhecia o risco e sabia da capacidade da polícia secreta da antiga Tchecoslováquia. Felizmente, com a queda do comunismo em novembro de 1989, pudemos, sem preocupações, visitar Praga em 1990. Foi um momento histórico. Alugamos, através de uma amiga, a sala de um cinema, e organizamos palestras nos dias 2 e 3 de junho. A partir desta data, voltamos, a cada ano, a Praga. Em 1992 organizamos uma palestra na cidade de Brno (República Tcheca) e, em 1994, visitamos pela primeira vez a cidade de Bratislava, agora capital da Eslováquia. Anualmente, organizamos palestras nessas três cidades, convidando Divaldo Pereira Franco, José Raul Teixeira, Juan Antonio Durante e, recentemente, o diretor do CEI e da FEB Cesar Perri. Em 2003 organizamos, junto com os amigos da Hungria, a primeira palestra em Budapeste, por Divaldo Pereira Franco.
Em 2006 visitamos, com o mesmo orador, pela primeira vez, Varsóvia, capital da Polônia. No outono de 2003, formamos um núcleo espírita em Bratislava (Eslováquia), junto com Rejane Spiegelberg-Planer, o qual visitamos mensalmente. Em 2005, com Rejane, formamos outro grupo na cidade de Brno (República Tcheca), que também visitamos mensalmente. Em ambas as cidades estudamos as obras de Allan Kardec, com o objetivo de criar sociedades espíritas autônomas. Não podemos visitar Praga mensalmente, mas já organizamos algumas visitas para seminários e palestras na cidade. Nestas ocasiões tivemos, em nossa companhia, a amiga Edith Burkhard, da Suíça. Aguardamos o dia de podermos criar em Praga uma célula espírita. O VAK está apoiando a formação de novos grupos na Áustria. Em 2007, promovemos a primeira palestra de Divaldo Franco, em Debant, no Tirol. Além desses países, o VAK organizou, sob a liderança de Rejane Spiegelberg-Planer, palestras sobre o Espiritismo junto à Organização das Nações Unidas. Como fruto destas palestras, foi efetuada, em 2007, a primeira palestra espírita em Istambul, na Turquia, proferida por Divaldo Pereira Franco.
Com os regimes políticos anteriores houve dificuldades para o Espiritismo?
Os regimes políticos anteriores acabaram com o Espiritismo, que pulsava livremente antes da 2a Guerra Mundial na antiga Tchecoslováquia. O pouco que sobreviveu ao nazismo foi destruído pelo comunismo.Nesse período de regime totalitário, havia vigilância em todas as atividades, através da sua bem formada polícia secreta. As religiões não eram bem vistas e eram consideradas inimigas do regime opressor utopista e materialista. As casas espíritas foram confiscadas e qualquer atividade espírita era proibida; algumas pessoas foram encarceradas, ou constantemente vigiadas. No entanto, a fé foi sempre mais forte do que o medo, e os espíritas continuaram a se encontrar ilegalmente, nas suas casas, onde a privacidade permitia, ou nos passeios na natureza e florestas. Conhecemos ainda alguns sobreviventes dessa opressão, que são verdadeiros heróis.
Tem algum exemplo de lutas desse período anterior?
Ouvi falar de vários casos, mas pessoalmente conheço somente alguns. Entre estes, tenho contato, até hoje, com Vladimir Sláde/ek, que chamamos carinhosamente Vlado. Nosso amigo é verdadeiro exemplo de coragem. Apesar de ser constantemente perseguido e ter sofrido várias agressões da polícia, nunca abandonou o seu ideal espírita. Escondeu no sótão as obras de Kardec, que foram depois roubadas pela própria polícia, que se utilizou da doença de sua esposa, aplicando-lhe remédios e injeções, no hospital, fazendo-a louca, provocando seu ódio contra o marido e obrigando-a a denunciá-lo.O casamento e a família foram destruídos. Vlado fala muito bem alemão e esperanto, de forma que já no tempo comunista começou a traduzir ilegalmente livros espíritas. Hoje, conta com mais de 100 livros traduzidos, incluindo os psicografados por Divaldo Pereira Franco e Francisco Cândido Xavier, entre outros.Contou-nos Vlado que, no período comunista, recebeu em forma de cartas os livros Depois da tempestade e Grilhões partidos, psicografados pelo médium Divaldo Pereira Franco, traduzidos em forma de resumo por sua amiga Helena Stavelová, que viveu no Brasil.
Resolveu então juntar as páginas, datilografá-las e copiá-las em casa, para poder distribuí-las gratuitamente. Foi por meio desta senhora, com a qual eu mantinha correspondência, através de Divaldo, que conhecemos Vlado, e o convidamos para a primeira palestra de Divaldo Franco em Praga. Desde então, Vlado ajudou-nos na propagação das palestras, gravando-as, transcrevendo-as e distribuindo-as pelo correio para seus amigos. Vlado, hoje, está com 80 anos, praticamente paralisado, vive numa casa para idosos, mas continua traduzindo os livros e servindo à Humanidade, um exemplo para todos nós.
Quais as necessidades espirituais do povo da Europa Central?
Acredito que, em geral, as necessidades do ser humano são iguais no mundo inteiro. A vida espiritual é oprimida pela vida material. Vivemos numa época de rápido e grande desenvolvimento nas áreas tecnológica e científica, demonstrando o grande potencial do intelecto no ser humano. Até bem pouco tempo atrás, na Europa Central, tivemos guerras terríveis, como na antiga Iugoslávia, comparáveis à barbaridade nazista, provocando sofrimentos que até hoje sentimos. Há falta de desenvolvimento moral. A lição cruel da 2a Guerra Mundial não foi suficiente. Apesar da religiosidade e das várias religiões existentes na Europa Central, não foi possível manter a paz. Na parte oriental da Europa a ideia comunista oprimiu a vivência da religião, mas não ofereceu nada para substituí-la e alimentar o espírito, criando pessoas materialistas. O ideal seria despertar para a vida espiritual. Isso não é possível no momento, na forma que desejaríamos, mas seria bom se as pessoas vivessem bem a sua religião, a essência da mensagem do Cristo.
Qual o impacto da mensagem espírita em sua vida?
O Espiritismo criou em mim outro tipo de fé, que se baseia na razão, em vez de ser cega. Assim, sou muito grato ao Espiritismo por ter-me orientado, e devo-lhe muito. Em nome do VAK, desejamos expressar aos leitores de Reformador e aos irmãos espíritas, no mundo, muita paz e felicidade na semeadura do bem, em nome do nosso Mestre Maior, Jesus.
Fonte:Revista Reformador ano 1280, nº 2171, fevereiro 2010
Querido Maurício, o Visão está maravilhoso! Parabéns; seu sucesso é merecido!
ola amigo agradeço mais uma vez de ter me convidado aqui na visao espirita pois vc e bom trabalhador e divulgador da nossa doutrina parabens e felicitaçoes a tods os participantes beijos a vc muita paz