20 fev
2010

O espírito de Roustaing

Por José Queid Tufaile Huaixan

Anos atrás, fui convidado para fazer um trabalho doutrinário numa federação espírita de um Estado brasileiro. Não, não haviam nos chamado por simpatia. Tudo não passava de manobra, impetrada pelo presidente da casa e seus auxiliares. Na época, o jornal A Voz do Espírito mantinha um representante na cidade e ele denunciava constantemente a situação de penúria do movimento local. Isso irritava os federativos que resolveram calar a boca do cidadão. Daí, armaram um delicado esquema, para conseguir o fim daquilo que consideravam uma heresia.

Não vamos descer aos detalhes rasteiros da ação. Mas, a situação de atraso dos centros espíritas, mostrava-se algo incomum. Era muito difícil identificar conceitos verdadeiramente kardequianos em tudo o que se via. Algumas poucas casas do interior, pareciam melhor orientadas. Mas no geral, o movimento espírita estadual, era uma lástima. Uma coisa me chamou a atenção: o presidente da federação declarava-se abertamente um seguidor de Roustaing. E assim pude conviver com o espírito do roustainguismo por alguns dias.


Para quem não sabe, Jean Baptiste Roustaing foi um advogado da cidade de Bordeaux (França), que viveu na época de Allan Kardec. Ele, e seguidores, constituíram-se inimigos do Codificador. A coisa foi mais ou menos assim. Roustaing tinha um diploma que lhe facilitava fazer idéia um tanto elevada da sua pessoa; coisa ainda muito comum nos “mestres” do nosso tempo. Ao ver o grande interesse que o Espiritismo despertava na sociedade da época, ele resolveu também participar. Mas escolheu o caminho errado. Com a ajuda da médium Madame Colignon, ele conseguiu escrever alguns livros, chamados hoje “Os Quatro Evangelhos de Roustaing”.

Até aí tudo bem. Cada um escreve o que quer. Mas, em termos de Espiritismo, a coisa não é bem assim. Allan Kardec havia estabelecido normas cautelosas, para se aceitar teses vindas do mundo espiritual.

Os livros de Roustaing eram o catolicismo disfarçado de Espiritismo. O advogado apresentou suas teses ao Codificador, que não lhes deu a importância que o autor julgava ter. Claro, não poderia ser diferente, tamanho o número de tolices que existiam nos ditados dos Espíritos. Muito educado, Kardec não condenou a obra, mas afirmou que os diversos volumes, poderiam ser resumidos a dois ou apenas um e que o futuro dessas idéias estaria ligado ao que diria delas a universalidade dos ensinos dos Espíritos. Isso foi como uma ofensa. Os tais escritos eram assinados pelos apóstolos de Jesus, assistidos nada mais nada menos do que pelo profeta Moisés. Roustaing, motivado pelo espírito de grandeza de sua personalidade, não suspeitou. Ele (ou os Espíritos que o assistiam) deram o nome a seus livros de “Revelação da Revelação”.

As absurdas teorias de Roustaing vieram achar lugar no Movimento Espírita Brasileiro. Foram e são divulgadas pela toda poderosa Federação Espírita Brasileira – FEB, a “casa máter” no país, um respeitável “vaticano” dos que se dizem seguidores de Allan Kardec. Com a ajuda de médiuns famosos (e até certo ponto inocentes) essas idéias se espalharam no movimento, caracterizando-o por condutas semelhantes ao que se vê na mentalidade católica. Hoje, o roustainguismo é o espírito de sistema, a que muita gente de consciência, por conveniência (ou em nome da caridade) evita combater.

Certas federações, ligadas à FEB, comportam-se como verdadeiras dioceses. E, seus dirigentes, como se fossem bispos. Nessa minha interessante visita federativa, vi coisas incomuns. No momento em que o tal presidente anunciava a abertura da sessão de estudos, todos se colocavam de pé. Depois, finda a prece, os presentes se sentavam. Em algumas casas, havia hinários destinados à cantoria que se estabelecia antes das reuniões públicas (prática que aos poucos se espalha no país). Nos trabalhos, estando presente uma “autoridade federativa”, era ela quem primeiro dirigia a palavra ao povo. Tudo como no misticismo católico, obedecendo a convenções estabelecidas pelo sistema vigente. Nada a ver com as instruções de Allan Kardec.

O que caracteriza o routainguismo em qualquer lugar que se apresente, é a ausência de regras fundamentadas na Codificação ou no mais elementar bom-senso. O misticismo e o domínio de Espíritos inferiores impera. As pessoas têm certa noção do que é o kardecismo, mas não o seguem em espírito e verdade. Todo este atraso é de responsabilidade de federações coniventes e da própria FEB, que faz de conta que tudo está muito bem. E, não se pode deixar de imputar responsabilidades aos oradores e médiuns conhecidos, que ajudam alimentar as fantasias, dizendo sempre que tudo está maravilhoso; que os Espíritos disseram isso e aquilo; que deve se seguir assim e que o futuro será brilhante. E por aí vai.

Isso me lembra uma ocasião em que conhecemos um dirigente de centro espírita (30 anos de atividades), que colocou na cabeça a idéia de que substituiria Chico Xavier. Segundo inspiração do “Alto”, o médium iria desencarnar e esse companheiro continuar a tarefa. Bem, em alguns meses, já estava treinando psicografia, usando paletó e penteado iguais aos do médium mineiro. O Espírito responsável pela coisa, assinava José de Anchieta, um padre como o de Chico. A fascinação era evidente. Tudo fizemos para convencer o sujeito de que era uma armadilha, mas ele insistia dizendo que estávamos obsediados, querendo atrapalhar o que julgava ser um grande feito. E os seus trinta anos de Espiritismo lhes davam a doce ilusão de que tinha experiência suficiente para dispensar conselhos amigos.

Bem, não havia outra saída. Como estava fascinado por Chico Xavier, tentamos um último recurso: fazê-lo falar com Chico sobre o tal trabalho. Ora, todo mundo pensa que médiuns famosos estão em contato constante com Espíritos esclarecidos e o que dizem pode ser tomado como verdadeiro. Infelizmente, isso não é verdade. No caso de Chico, por exemplo, muitas coisas que disse ao longo da sua vida monástica, foram tomadas como verdades irretocáveis por alguns fanáticos seguidores; ainda que contrariasse frontalmente princípios da Codificação. É assim também, com Divaldo Pereira Franco e similares. E lá se foi nosso amigo, em direção à cidade mineira de Uberaba. Depois de esperar naquela interminável fila, ouviu do médium, que estava tudo bem e que deveria continuar o trabalho. Era o que queria.

Evidentemente, não deve ter contado detalhes da história para Chico. E, nem que quisesse isso seria possível. Verdadeiras feras cercavam o médium, arrastando literalmente quem se detivesse por mais de 20 segundos ao seu lado. O resultado foi terrível. A fascinação destruiu a vida dessa criatura que, em termos espirituais, ficou enfermo até o final de sua vida. Como dizem os conciliadores chiquistas: devia ser algum resgate de outras vidas. É, pode ser… mas, prefiro a sabedoria popular: “pimenta nos olhos dos outros é refresco”.

Dias atrás, um leitor escreveu falando do orador que visitou sua casa espírita e fez uma palestra dizendo que Jesus nunca havia encarnado; que seu corpo era fluídico e que ele jamais conhecera o pecado. Certamente deve ter afirmado também, que Maria (a mãe do Mestre) era virgem; que a carne é suja e outras tolices próprias do catolicismo e do roustainguismo. Uma amiga do nordeste, teve a mesma desagradável surpresa. A pedido da federação local, abriu a casa que dirige para um expositor da Federação Espírita Brasileira, que visitava a cidade. Foi horrível. Ele resolveu ensinar às pessoas, catolicismo misturado com Espiritismo. Isso é, a doutrina de Jean Baptiste Roustaing.

Tudo o que vimos acima, condutas, procedimentos, conselhos e conseqüências, chama-se roustainguismo. É a doença do movimento espírita e que se espalhou por outros países, onde a FEB e emissários distribuem a semente daninha. Dirigentes e grupos sérios, que se orientam pela doutrina de Allan Kardec, não devem permitir que tais conceitos sejam divulgados entre o povo; mesmo que os oradores sejam ligados a federações. Isso, de maneira alguma garante a qualidade do que dizem. Aconselha-se conversar com convidados desconhecidos, antes de proferirem palestras. É melhor prevenir, do que remediar. Se você puder, leia Os Quatro Evangelhos de Roustaing. É muito importante saber de onde nasceram os problemas que atormentam os centros espíritas da atualidade. E, se tiver tempo, não deixe de conhecer a lendária obra, “Brasil: Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”. Elas vieram da mesma fonte espiritual.

Fonte: Portal do Espírito

* A foto acima do Cavalo de Tróia é uma referência à célebre frase do escritor José Herculano Pires, que definiu o roustainguismo como sendo “O Cavalo de Tróia do Espiritismo.”

3 Comentários

  • Temos que estar alerta, por isso mesmo temos como ensinamento "Orai e vigiai", porque os fantasmas que tentam atrasar a evoluçao pode estar escondido em diversas formas, e apresentar-se de varias maneiras diferentes. Dal

  • o divaldo e um dessses espiritos que querem destruir a doutrina espirita com a ideia dele de querer introduzir a s ideias das seitas de nova era americanas como criancas indigo.
    no entanto no movimento espirita so tem babador de divaldo.
    personagem que magoou o chico fazendo plagio de suas psicografias.

  • é tudo mentira… a feb nem é mau vista em congressos espiritas na frança , … ve se refretem isso.

Então, O que achou?